Embora não tenham muita visibilidade, por não visarem lucro, os criadores de cães estão por toda parte em Aldeia. Pelo menos 18 deles se organizaram em um grupo de WhatsApp e se encontraram pessoalmente pela primeira vez na última semana de julho na Saideira Caldinhos e Espetinhos, no km 10 da PE-27.
Criadores cinófilos são pessoas que mantêm um hobby nada barato, “porém muito prazeroso” – segundo elas –, que é de criar cães visando o aprimoramento genético da raça. Em geral um criador escolhe uma raça, no máximo duas ou até três, e se dedica de corpo e alma para que cada geração que nasça tenha maior perfeição. Isso significa obedecer aos padrões elencados pela Federação Cinológica Internacional (CFI) para cada raça.
Estivemos no primeiro encontro dos criadores cinófilos de Aldeia e conversou com vários deles. Acompanhe algumas histórias:
Poucos anos atrás o casal Camila Aguiar e Sérgio Pinho Alves criava um schnauzer e costumava passear com ele no Kennel Club de Pernambuco. Um belo dia, num desses passeios, Camila viu um Cão de Crista Chinês tomando banho para se preparar para o desfile e ficou encantada com a feiura do bicho. Chamou Sérgio para ver e foi amor à primeira vista. “Achamos que era o cão mais feio do mundo, mas por isso mesmo nos apaixonamos”.
Quatro anos depois, Camila e Sérgio são, hoje, pais de dez Cães de Crista Chinês, que criam em Aldeia, e viajam o ano todo levando alguns deles para participar de exposições. “Essa é a vida de um criador cinófilo: estudar a raça, pesquisar a genética do cão, planejar as cruzas e viajar atrás de exposições”, resume Sérgio.
Segundo ele, para se ter uma ideia da diferença entre um criador cinófilo e um criador comum, somente agora, depois de quatro anos, nasceu a primeira ninhada do seu canil (que fica no km 12). “Não nos interessa cruzar para vender filhotes. Fazemos muitos exames para identificar qual macho combina melhor com qual fêmea para não corrermos o risco de produzir um filhote com defeito genético. Essa é a nossa preocupação”, explica o criador.
Os tais padrões fixados pela FCI, de acordo com Sérgio, são observados pelos árbitros durante as exposições, que conferem aos melhores cães títulos de beleza e conformidade. São examinados, no julgamento: cabeça, caminhada, movimentação em círculos e em linha reta, parado na mesa ou no chão, estrutura, aprume, angulações, esqueleto ósseo e pelagem.
Diogo Borges, criador de Fila Brasileiro na Chã da Peroba (Aldeia do Fila, km 6), foi quem teve a iniciativa de formar o grupo e organizar o encontro dos cinófilos de Aldeia. Ele revela que um dos objetivos, além de estreitar os laços entre aquelas pessoas que muitas vezes já se conhecem das exposições, é o de tentar economizar nos gastos que o hobby requer.
“Gastamos muito com vacinas, vermífugos, alimentação, microchips (usados para identificar os animais) e outros equipamentos utilizados nas exposições, como mesinhas de treinamento, cercadinhos e caixas para transporte, além das próprias viagens”, elenca ele. A ideia é que o grupo se reúna mensalmente e organize compras coletivas e até viagens em conjunto”, diz, lembrando que em junho do próximo ano vai acontecer a maior exposição da América Latina, em Fortaleza, “e já estamos pensando em alugar uma casa lá. Quem não for expor, pelo menos vai querer ir para assistir”, adianta.
“Chegamos a rodar 6 mil quilômetros no ano de 2014, somente indo a exposições”, conta Raimundo Gesteira, que cria Dog Alemão Dourado há 30 anos em seu canil Gigantes D’Aldeia. Ele até mandou construir um reboque especial para levar os cães. “A partir de agosto, começa o movimento. Todo fim de semana tem uma viagem. Geralmente escolhemos as cidades do Nordeste, mas acontece de irmos a outras regiões também”, conta.
Raimundo lembra que o criador profissional, que tem os animais apenas para acasalar e vender, não tem apego ao cão. Já o criador cinófilo cria porque gosta de criar e ver o desenvolvimento da raça. Não vende para qualquer um. É preciso cuidar do cão e buscar sempre o aperfeiçoamento da linhagem. Segundo ele, a procura pelo Dog Alemão hoje em dia não é tanta, “pois não está na moda”. Atualmente, diz, estão na moda o Pug e o Buldogue Francês.
No km 12, a dona do canil Whitesand Goldens, Maria Carmen Gouveia, conta que seu amor pela cinofilia também nasceu por acaso. Advogada, mãe, e com mil afazeres, nem sonhava em ter um cão até que um dia resolveu experimentar e escolheu um Golden Retriever pelas características de cão de companhia, ideal para conviver com crianças.
Desde então, 12 anos se passaram, Maria Carmen se tornou uma apaixonada pela cinofilia e se dedica a estudar e planejar os cruzamentos (que devem seguir regras) para garantir que as linhagens sejam cada vez mais perfeitas. E é também juíza da Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC).
“Todo cão de raça pura tem sua função, que varia de acordo com o temperamento, a pelagem, o porte”, explica Maria Carmen. “Por isso, uns servem para caça, outros para guarda, outros para companhia, e daí a importância de desenvolvermos a genética deles, para melhorar a cada geração o desempenho desses animais”.
No caso do Golden Retriever, explica a criadora, apesar de ser um cão tanto de caça quanto de guarda e de companhia, tem sido bastante usado como cão guia e como cão doutor (que participa de terapia assistida por animais em hospitais).
O grupo de criadores cinófilos de Aldeia inclui ainda canis de pastor australiano, pastor branco suíço, shitzu, pointer, pug, dog argentino, dálmata, buldogue inglês, shiba, akita, basset hound, boxer, beagle, terrier brasileiro, border collie e labrador. Quem tiver mais interesse em conhecer ou fazer parte do grupo deve procurar Diogo Borges, do canil Aldeia do Fila, pelo telefone: (81) 9 8796 2847.
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