Nas primeiras horas da manhã o movimento de pessoas trabalhando na tenda já era grande. Homens e mulheres, adultos e crianças, todo tipo de “afilhados” começavam a chegar carregados de sacolas com comidas, bebidas e enfeites super coloridos para ajudar na arrumação da grande festa. Era sábado, 26/5, e os afilhados da Tenda Cigano Ramires preparavam as comemorações ao Dia de Santa Sara, padroeira dos ciganos. Veja um pouquinho da festa no vídeo a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=nGnlOng2lyo
A Tenda Cigano Ramires funciona no número 35 da rua Miguel Couto, em Aldeia, há um ano. Antes, e por 23 anos, funcionou em Pau Amarelo. A madrinha da tenda é Maria das Graças Gomes de Oliveira, que em nome da cigana Rosi, orienta afilhados não só de Pernambuco, mas de diversas partes do país e até no exterior.
A mediunidade de Graça foi revelada quando ela ainda era criança e até hoje, aos 57 anos, ela se dedica à vida cigana e a ajudar quem precisa. De uns anos para cá tem ido em busca de outro antigo sonho: terminar a faculdade de Gastronomia.
Há uma semana um grupo de afilhados entra e sai da tenda – casa com diversos ambientes de oração onde acontecem os atendimentos e encontros – arrumando tudo para o sucesso da festa. Afinal, o Dia de Santa Sara é um dos dois momentos anuais em que a comunidade cigana se reúne para festejar. O outro dia é em outubro, quando se comemora o Dia do Povo Cigano.
Na tenda de Aldeia, os atendimentos são feitos nas terças e quintas-feiras. A cigana joga cartas, aconselha e prescreve banhos de ervas e orações para tratamentos espirituais. O baralho cigano mostra o que pode estar causando determinadas situações que incomodam o cliente e os espíritos ciganos orientam os tratamentos.
À medida em que os frequentadores da tenda vão desenvolvendo sua mediunidade, tornam-se mais intuitivos e podem decidir se unir ao povo cigano. Neste caso, são batizados e passam a ser afilhados da tenda e a se referir a Graça como madrinha.
A festa começa quando o dia cai e a fogueira pode ser acesa, somente pelos homens presentes, depois de darem nove voltas em torno dela enquanto as mulheres batem palmas. Seguem-se vários rituais de limpeza e purificação espiritual. Vestidos a caráter, os ciganos acolhem os convidados que, um a um, lavam as mãos num preparado de ervas, são abençoados por orações e defumação com incensos e recebem um punhado de erva doce que, representando suas angústias e dores, será atirado ao fogo.
Uma grande parte da festa var se dar em torno da fogueira, com incorporação de espíritos ciganos, muita reza, dança, abraços, risos, distribuição de rosas e uma grande celebração ao povo cigano.
Durante a festa do último sábado houve a celebração de um casamento. A biomédica e cigana E.L., 28, e o comerciante católico N.P., 50 anos, vieram de Bonito, no interior do Estado, para receber as bênçãos ciganas. Pedindo para resguardar o anonimato, E.L. conta que se juntou à comunidade cigana há cerca de quatro anos, quando conheceu a tenda Ramires.
“Nasci católica, mas sempre me identifiquei com o espiritualismo. Quando conheci os ciganos senti na hora que era ali que eu me encaixava”, conta. Como mora longe, tenta viajar uma vez por mês para visitar a tenda e participar das reuniões. Ela diz que ainda não tem permissão para botar cartas para os outros, mas pratica diariamente sua fé na Santa Sara, no cigano Ramires e na madrinha Rosi, rezando num cantinho especial que tem em casa. “Não podia deixar de vir pedir a bênção do povo cigano ao nosso casamento”.
Tenda Cigano Ramires
Rua Miguel Couto, 35, Aldeia (km 9,8, rua da Água Mineral Santa Joana)
Telefone: (081) 99975-2776
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