Não está fácil pra ninguém ficar em casa no isolamento. Para cada faixa etária, um drama. Imagine os adolescentes, em plena fase de sair pra balada, conhecer gente nova, namorar, ter que se conformar em interagir virtualmente com a galera? Bom, para as crianças pequenas também não tem sido fácil. Depois de quase quatro meses de confinamento, os pais têm relatado que a necessidade de fugir do tédio tem girado a chave da criatividade da criançada para o nível máximo.
Mãe de Tomás (7) e Cecília (4), a arquiteta Caroline Guerra – que mora no km 13 – conta que os filhos têm descoberto muita coisa nova nessa fase de isolamento. E não são só brincadeiras novas, mas também novas habilidades e gostos.
“Tomás descobriu recentemente que gosta de observar pássaros. Compramos um livro sobre as aves de Aldeia e agora ele, que antes só tinha como hobby o futebol, agora gosta de botar água e ficar admirando os passarinhos, aprendendo sobre a natureza, e isso é muito bom”, alegra-se a mãe coruja.
Segundo Caroline, esse contato maior com a natureza também tem acontecido com uma pequena plantação que ela e os filhos têm cultivado no quintal. Já plantaram inhame, batata doce, tomate cereja e morango, entre outros alimentos, que depois utilizam para preparar, eles mesmos, lanches e refeições.
“Antes as crianças sabiam apenas que a comida vinha da cozinha, mas não sabiam como ela é preparada. Agora estão adorando plantar, acompanhar a plantinha, colher e depois ir pra cozinha preparar o próprio alimento. Estão até mesmo se permitindo provar novos alimentos e ampliando seus cardápios”, conta Caroline.
Além da horta e da cozinha, as crianças também criam outras experiências divertidas, como a “banda de panelas”, em que tiram sons diferentes com utensílios da cozinha, e a brincadeira de testar o olfato e o paladar, em que provam diferentes sabores com os olhos vendados. Também têm aproveitado bastante para fazer brinquedos com materiais que iriam para o lixo reciclável do condomínio, pintar painéis gigantes usando o verso das plantas arquitetônicas da mãe e fazer inventário de sementes que catam pelo condomínio.
Na casa de Manuela e Bruno Leão, os filhos Bruno (8) e Nina (7) também têm inventado muitas novidades. Depois que seu celular quebrou, Bruninho teve a ideia de vender alguma coisa pra conseguir dinheiro e investir no conserto de um celular do pai, mais moderno, também encostado. Selecionou alguns de seus brinquedos e, junto com a irmã, montou uma “lojinha” no condomínio onde moram, no km 14.
“Começamos vendendo alguns de nossos brinquedos e depois com o dinheiro compramos os picolés pra revender. A gente até fez um cartaz e deixou na portaria oferecendo entrega em casa e minha mãe botou no grupo do condomínio”, conta Bruno. “Em dois dias eles venderam cem picolés”, diverte-se a mãe.
De máscara e oferecendo álcool gel para os clientes, Bruno e Nina chegaram a arrecadar R$ 55 pra cada um, mas como ainda não foi suficiente para o conserto do celular, agora planejam alugar umas cabanas que têm e economizar a mesada para atingir o objetivo.
Nina conta que além da experiência como empreendedora, que achou muito divertida, tem também curtido produzir alimentos. Ela cuida da hortinha da família junto com os pais e o irmão. “Foi muito legal fazer a lojinha e com nosso dinheiro poder comprar nossas próprias coisas. Outra coisa divertida é plantar. Já plantamos cenoura, cebola, manjericão e pimentão”, orgulha-se.
Na casa da doceira Helena Macedo são três meninas: Luíza, 10, Cecília, 4 e Elis, 2. A mãe já trabalhava em casa, por isso a rotina dela não mudou muito, mas ter as meninas em casa 24 horas por dia tem tornado as coisas um pouco mais complicadas. “Enquanto estou decorando os bolos ou atendendo os clientes elas ficam com o pai ou com a avó, mas sempre acontece de ter que parar para dar atenção a elas”, conta Helena.
“Nossa maior sorte é morar em casa… O jardim se tornou um parquinho, onde tentamos resgatar algumas brincadeiras de antigamente, como mela-mela, pula corda, areia colorida, brinquedos feitos com recicláveis, e, claro, brincar na cozinha, fazendo bolo, biscoito, pizza, elas adoram. Também fizemos um circuito no quintal, com pneus, para elas pularem, correrem etc. Duas ou três horas por dia elas estão liberadas para usar eletrônicos. Importante é brincar e não impor uma rotina rígida nesses tempos de hoje”, ensina. “Acima de tudo, é preciso ser muito criativo!”.
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