Trinta anos atrás, quando sediou a Conferência Mundial de Meio Ambiente da ONU, a Eco-92, ou Rio-92, o Brasil começou a despertar para a questão ambiental. Até então, o tema era desprezado pela população e se limitava a ser debatido por acadêmicos (chamados de “ecochatos”) ou por jovens idealistas e hippies, tidos como eco-loucos. Felizmente, hoje, o cuidado com o meio ambiente é pauta prioritária em todo o planeta, tanto por governos quanto por organizações civis e empresas privadas, que entendem a urgência do tema e a responsabilidade que cada um tem para a preservação da vida na Terra.
Camaragibe, no entanto, parece estar atrasado mais do que três décadas. Causa muita estranheza, e um tanto de perplexidade, saber que em pleno Século XXI o município perdeu um projeto como o Semeando Camaragibe, que já em outubro de 2018 tinha sido contemplado com R$ 468.990,00 de um convênio (n° 879761/2018) junto ao Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) do Ministério do Meio Ambiente. O convênio previa a execução, durante 23 meses, de ações voltadas para a educação ambiental, a produção de mudas nativas da Mata Atlântica e atividades de plantio em áreas de nascentes inseridas na APA Aldeia/Beberibe. Nossa indignação emerge da plena ciência de que as justificativas para esta inação não se apoiam na pandemia da Covid-19, e sim na leniência e morosidade dos gestores públicos pouco sensíveis ao que de fato o cidadão enxerga como importante e prioritário.
Quem, como eu – que na época atuava como diretor de Meio Ambiente de Camaragibe – sabe como foi difícil reunir os esforços de uma briosa equipe de colaboradores para que obtivéssemos êxito na aprovação da proposta, em um duro processo seletivo de âmbito nacional que resultou em menos de dez prefeituras selecionadas em todo o Brasil, se cobre de frustação e tristeza por “nadar tanto e depois morrer na praia”.
O convênio exigia da Prefeitura de Camaragibe a módica contrapartida de R$ 4.850,00 (quatro mil oitocentos e cinquenta reais)!!!!! Dinheiro esse que, somado aos quase meio milhão de reais, certamente produziriam efeitos duradouros e muito importantes na conscientização da população de Camaragibe, principalmente porque o prevê uma atuação prioritariamente junto às escolas e ao público infantil, que afinal serão os herdeiros e administradores das consequências de tudo o que fizermos doravante no Planeta Terra nos próximos anos. Ver devolvidos os recursos já empenhados nos dá uma sensação de imensa frustação, mas nos impulsiona ainda mais a perseverar e buscar resiliência na certeza de que a comunidade do município de Camaragibe não mais irá tolerar este tipo de atitude descompromissada com as questões ambientais.
Há que acrescentar ainda a informação revoltante de que em se tratando da gestão da Prefeitura de Camaragibe, o município não tem tido muita sorte, pois durante minha permanência como servidor vi mais dois casos de semelhante descaso. Um deles foi a perda do Centro de Produção de Mudas para toda a área da APA Aldeia-Beberibe, que teria Camaragibe como local a ser implantada, em articulação exitosa do Fórum Socioambiental de Aldeia e que, pelos mesmos descaminhos da leniência e incompetência administrativa, acabou sendo deslocada para o Horto de Dois Irmãos.
O terceiro caso é o da Central de Triagem de Resíduos Sólidos a ser implantado no município de Camaragibe em uma área pública próxima ao aterro de Céu Azul, com recursos do Governo do Estado, projeto este desenvolvido em 2019 e cujo lançamento ocorreu nesta quinta, dia 17/02/2022, contemplando outros seis municípios da RMR (Paulista, Abreu e Lima, Ipojuca, Moreno, Cabo e Araçoiaba) e que só não veio para Camaragibe justamente por falta de articulação política e falta de empenho no envio da documentação para o licenciamento ambiental.
Cabe a mim, como cidadão de Camaragibe, finalizar este texto reiterando a confiança na necessidade de permanência na luta cotidiana para que tais desmandos não caiam na vala comum do conformismo, “que tudo sempre será assim mesmo” no que se refere à Administração Pública, pois somente nós poderemos fazer as mudanças necessárias neste “status quo”.
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