Uma nova espécie de rã ou perereca (como é popularmente conhecida no território) foi recentemente descrita para a Mata Atlântica de Pernambuco, tendo como localidade-tipo o Parque Estadual de Dois Irmãos, no Recife. Além disso, foram registradas populações em duas outras áreas de mata próximas ao Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcanti (CIMNC) – no km 20 de Aldeia – e à Mata da Pitanga (km 17), em Paudalho, ambas inseridas na Área de Proteção Ambiental (APA) Aldeia-Beberibe, uma importante Unidade de Conservação Estadual, criada inicialmente para proteger a nossa água subterrânea.
Esse novo registro reforça a importância da manutenção das florestas remanescentes e os estudos apontam para a necessidade de criação de uma área de proteção integral maior, que garanta a sobrevivência dessa e de outras espécies ameaçadas deste território.
Um ponto de grande preocupação é que essas localidades estão situadas nas proximidades de dois grandes empreendimentos apoiados pelo Governo do Estado e pelo Exército Brasileiro: a Escola de Sargentos e o Arco Metropolitano do Recife, obras que preveem a supressão de aproximadamente 100 hectares de mata nativa.


Inicialmente, o projeto previa o desmatamento de cerca de 200 hectares, mas, após mobilização e pressão popular, esse impacto foi parcialmente reduzido. Ainda assim, o projeto não foi relocado, permanecendo altamente danoso para os ecossistemas locais, o que representa uma das principais frentes da luta socioambiental da região.
A nova espécie registrada parece ser bastante rara, com população pequena e restrita, o que reforça a urgência de novos estudos, monitoramento e ações de conservação. Nosso objetivo com esse achado é sensibilizar as autoridades públicas e a sociedade para a manutenção e preservação integral dessas áreas, com destaque para a Mata da Pitanga, onde a população da espécie parece ser mais viável e estável.
A descoberta foi feita inicialmente por uma pesquisadora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e sua equipe. A pesquisa teve apoio do Programa de Pesquisa em Biodiversidade, Mata Atlântica (PPBio-MA). Em um contexto político difícil, quando o governo federal de então atacava a ciência, a educação e o legado do educador Paulo Freire, os pesquisadores decidiram homenagear o grande patrono da educação brasileira, batizando a nova espécie com seu nome (Ololygon paulofreirei), um gesto simbólico de resistência, reconhecimento e esperança.
Esse achado alerta a sociedade e o poder público sobre a urgência de investir em ciência e manter nossas florestas em pé. DESMATAMENTO 0! SALVE A APA ALDEIA BEBERIBE!
Ednilza Maranhão é pesquisadora e coordenadora do laboratório Interdisciplinar de Anfíbios e Répteis da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
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