O caracol gigante africano (Achatina fulica) tem sido motivo de preocupação para muitos de nós, moradores de Aldeia, há vários anos, principalmente em épocas mais chuvosas, quando a população desses caracóis se prolifera ainda mais. Além de destruírem jardins e plantações, eles podem transmitir doenças.
São também conhecidos como caramujos gigantes africanos, mas geralmente denominamos caramujos às espécies aquáticas, e esta é uma espécie terrestre. Com conchas medindo entre 10 e 15 cm de comprimento, cada indivíduo pode depositar até 400 ovos por vez!
Nativa do Leste da África, é uma poderosa invasora que atualmente se distribui por quase todos os continentes (África, Américas, Leste e Sul da Ásia e Oceania). No Brasil, essa espécie foi introduzida ilegalmente no Paraná, em 1989, e em São Paulo, em 1996, para fins de cultivo e comercialização como uma alternativa mais econômica ao “escargot” (Helix aspersa), comumente consumido na França e em outros países europeus. Como sua “carne” é mais dura que seu equivalente europeu e as pessoas aqui no Brasil não tinham o costume de se alimentar de caracóis, a comercialização foi um fracasso e seus criadores, por falta de informação, liberaram os indivíduos que estavam sendo cultivados, no ambiente. Hoje em dia essa espécie já foi registrada em 24 dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal (sem registro apenas no Acre e Amapá).
O caracol gigante africano teve tanto sucesso como invasor porque se reproduz muito facilmente. São hermafroditas, ou seja, possuem os órgãos reprodutores femininos e masculinos no mesmo indivíduo. Assim, quando dois indivíduos se acasalam, os dois são fecundados, duplicando a quantidade de ovos produzidos. Um indivíduo pode realizar de 5 a 6 posturas de ovos por ano, sendo que cada postura pode conter até 400 ovos. Os ovos ficam semienterrados e eclodem em 2 a 3 semanas.
Além disso, são herbívoros generalistas, ou seja, não possuem muitas restrições para se alimentar, consumindo folhas, flores e frutos de várias espécies, o que facilita ainda mais o crescimento da população. São também bastante resistentes ao frio, à seca, ao sol intenso e se proliferam muito na estação chuvosa.
Essa espécie tem causado grande impacto na biodiversidade local, tanto vegetal, pois são ávidos consumidores, quanto animal, competindo com as espécies de caracol nativas (Megalobulimus sp.). Além disso, o caracol gigante africano pode hospedar e transmitir duas espécies de vermes (ou helmintos) causadoras de doenças: Angiostrongylos cantonensis – causador da angiostrongilíase meningoencefálica humana (ou meningite eosinofílica) – e o Angiostrongylos costaricensis – causador da angiostrongilíase abdominal. As larvas de Angiostrongylos são as formas infectantes, que podem ser transmitidas através do muco produzido pelo caracol ao se locomover. Por isso é tão importante lavar bem frutas, verduras e legumes, mesmo os orgânicos.
Para evitar a proliferação dos caracóis é importante manter os quintais e jardins limpos. Locais com acúmulo de resíduos, entulhos, grama alta ou terrenos baldios favorecem o crescimento desses animais.
A retirada manual desses animais, com a ajuda de luvas ou sacos plásticos é a mais indicada. É importante saber diferenciar o caracol africano (Achatina fulica) da nossa espécie nativa, conhecida como “aruá-do-mato” (Megalobulimus sp), que tem um papel importante no nosso ambiente e já vem sendo bastante ameaçado pelo invasor. A concha do africano é mais alongada, pontiaguda, tem a coloração mais escura e possui mais giros, com a borda mais afiada e cortante. Já a concha do Megalobulimus sp tem coloração mais clara e a borda mais arredondada. Os ovos, se encontrados, também devem ser coletados da mesma forma.
A utilização do sal para matar os caracóis não é recomendada, pois além de salinizar o solo, não elimina seus ovos, nem as larvas dos vermes que podem estar presentes no muco. Tampouco é recomendada a utilização de pesticidas, pois além de terem pouca eficácia sobre os caracóis, são tóxicos e podem contaminar o solo, a água, animais domésticos e pessoas.
Os caracóis e ovos coletados não podem ser descartados vivos no lixo doméstico. Para descarta-los é preciso colocá-los primeiramente em um recipiente como um balde ou um tonel e adicionar hipoclorito de sódio (água sanitária) a uma concentração de uma colher de sopa para cada litro de água. Depois, acondicioná-los em dois sacos plásticos, quebrando suas conchas com o auxílio de um martelo ou pisando com calçados adequados. A solução de água sanitária utilizada deve ser descartada no ralo (rede de esgoto) e não no solo.
É possível também enterrá-los em valas de pelo menos 80 cm de profundidade, afastadas de cisternas, poços artesianos ou lençóis freáticos e se possível utilizando cal virgem para impermeabilizar o solo e não atrair outros animais, cobrindo logo em seguida com terra. É preciso cuidado ao manusear a cal, pois pode provocar queimaduras.
Outra opção de descarte dos caracóis coletados é a incineração, desde que em condições adequadas, como dentro de um latão de ferro, por exemplo. Não se deve atear fogo aos caracóis diretamente no solo, pois ele pode se alastrar e provocar acidentes. A coleta dos caracóis deve ser feita com o auxílio de luvas e sacos plásticos, não é recomendado pegá-los diretamente com as mãos.
Muita gente não sabe, mas um forte aliado com quem podemos contar, nessa luta contra os caracóis gigantes africanos, vem da própria natureza: os timbus! Eles já foram flagrados se alimentando desses caracóis, que têm hábito noturno como eles. Veja o vídeo gentilmente cedido por Lindalva Rabelo, de Leopoldina (MG): https://www.facebook.com/lindalva.rabelo/videos/1825975327419103
As fotos deste artigo foram extraídas do Informe Técnico para o Controle da Achatina fulica da Divisão de vetores, reservatórios e hospedeiros (DVRH), Secretaria Estadual de Saúde (SES) – SC
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