Não está fácil pra ninguém. Essa é a frase que parece ressoar por toda parte desde que a proximidade do coronavírus começou a refletir nos negócios e nos empregos das pessoas. Aqui em Aldeia não poderia ser diferente e basta uma volta pela estrada para se ter uma ideia. O Aldeia da Gente conversou com alguns empresários para saber de que forma seus negócios estão sendo afetados e qual a expectativa deles para os próximos meses. Pelo que se notou, apenas os serviços essenciais, que não puderam parar, ainda estão respirando com certa tranquilidade. Confira:
Definitivamente vender imóveis numa época como essas não é lá um desafio pequeno. Que o diga João Manoel Bezerra, conhecido como Dão, da Aldeia Imóveis. Ele diz que está completamente de mãos atadas porque vê o setor imobiliário como dos mais afetados pelo momento atual.
“Quando estávamos começando a sair de uma crise financeira, vem essa nova. Muitos negócios que estavam para ser fechados ficaram para depois e agora está tudo parado, porque as pessoas não querem sair para visitar os imóveis e muitas vezes o imóvel ainda está ocupado e os moradores não vão querer receber visitas”, lembra.
Na Aldeia Imóveis, segundo Dão, os quatro funcionários estão em casa com os salários mantidos e os doze colaboradores recebem uma ajuda para se manterem. Um funcionário fica no escritório para entregar as chaves do imóvel, caso um cliente deseje ir sozinho. Mas a situação está bem difícil. “Já estamos parados há quinze dias. Zerou tudo. Não sei o que vai ser se isso perdurar por mais quinze”, lamenta o empresário.
Mozart Souto, da Aldeia Pedras, fechou a loja e adianta que suspendeu absolutamente todas as atividades, tanto na área de produção como os atendimentos externos nas casas dos clientes. Com isso, a queda no faturamento foi de 100%. Como trabalham com ele os dois filhos e a esposa (foto acima), a situação da família ainda é bem incerta, mas Mozart mantém o otimismo: “Não tenho outra alternativa de renda. No momento estou aproveitando pra colocar minha vida em dia, caminhando diariamente e me alimentando melhor, além de cuidar do jardim e da piscina. Vamos superar!”.
Segundo ele, muitas pessoas ligam perguntando se pode atender, mas para isso ele teria que mobilizar cinco ou seis funcionários, e ele não pretende expor ninguém ao vírus. “Tenho 24 funcionários fixos e estamos aguardando as medidas do governo pra podermos escolher o rumo certo. Não pretendo demitir ninguém”.
A Porto Primo, no Aldeia Boulevard (km 9,8), é um dos serviços considerados essenciais e por isso manteve o funcionamento, embora com horário reduzido (funcionava das 7h às 22h e agora das 9h às 20h). Segundo o empresário Fábio Jorge, o faturamento da loja caiu aproximadamente 50%, principalmente nos fins de semana, quando acontece o maior movimento. Para evitar demissões, segundo ele, 15 dos 42 funcionários foram colocados em férias remuneradas. O restante permanece em expediente normal e o delivery vem sendo uma das alternativas para mantê-los na ativa.
“Nosso intuito é não demitir ninguém, por isso a medida emergencial foi de colocar uma parte da equipe de férias. Depois dos primeiros 30 dias vamos rever essa estratégia. Deus está no controle”, garante.
No Palatino Open Mall, as três empresas do Jardim Secreto – Asia Garden, Aldeia Beer Garden e Luppa Café estão fechadas. Segundo Michelle Azevedo, elas estão sendo adaptadas para funcionar em sistema de take away (pegar e levar), ‘pois o delivery em Aldeia é uma realidade ineficiente’. Ela explica que a contratação de motoboys é superdifícil, por vários motivos. O primeiro deles é que à noite há o perigo constante de assaltos e por isso muitos terminam suas atividades às 18h/19h. Passando desse horário, cobram uma taxa muito alta para rodar. Depois, o fator distância é outro complicador, já que em Aldeia há endereços de complicado acesso e às vezes até dentro de um condomínio é preciso se percorrer quilômetros.
‘Não temos operadoras como iFood e Uber Eats aqui, o que dificulta muito. As pessoas querem tarifa zero morando em acessos muito complicados. Para ter um delivery em Aldeia, você tem que ter uma frota própria ou o serviço fica descontinuado, com falhas. E, para ter uma frota, é muito caro’, lamenta Michelle.
Com duas lojas, dois farmacêuticos, seis atendentes e dois motoboys, a Principal Farma está trabalhando com a equipe completa operando em horário normal. Foram afastados apenas os que apresentavam riscos, como asmáticos crônicos e outra possível comorbidade. Segundo Tatiana Pagliani Majiwki, o movimento tem oscilado, mas a venda de itens de necessidade média (vitaminas, suplementos de imunidade e medicações de uso contínuo) teve um aumento de 8% no último mês. A preocupação é com o que está por vir.
“As pessoas em breve não estarão em condições de pagar seus cartões de crédito e a maioria – cerca de 95% – das nossas vendas é feita no crédito, mesmo em tempos normais. Ou seja, as pessoas ainda têm algo para gastar, mas vai vir a recessão e se não houver um direcionamento correto do mercado, não sei o que será de todos, nem mesmo dos que são vistos como produtos de necessidade, como farmácias e supermercados”.
Em relação aos clientes, ela explica que têm sido orientados a pedir pelo delivery para evitar riscos tanto para eles mesmos como para a equipe da farmácia. Por isso o setor de entrega foi incrementado e agora está com cinco telefones e três números de whatsapp para atender: Loja 1, km 10 – 3459-1350 / 9 8285 7867 / 9 8110 3394 e Loja 2, km 5,5 – 3459 5851 / 9 9734 7770.
Quem preferir ir à farmácia, vai encontrar algumas precauções também. Segundo Tatiana, a área de atendimento foi isolada, estabelecendo uma distância entre os clientes e entre eles e os atendentes. Os funcionários foram orientados quanto às normas e EPIs, e os farmacêuticos estão prontos a dar mais informações e ajudar com as dúvidas dos clientes.
Luciana Pinheiro, do Bella Aldeia, mandou seu depoimento:
“Neste momento de tantas incertezas e com o decreto estadual de paralisação de diversos segmentos a partir do dia 20/03, adotamos o critério de férias coletivas por 15 dias. Temos um quadro de 22 colaboradores e parceiros, que estão paralisados em suas casas, com todos os seus direitos, salário mais adicional de um terço de férias, haja vista que não podem atender em domicílio, pois o deslocamento do profissional e seus equipamentos móveis não atendem às normativas da OMS de esterilização e EPIs e desta forma não recomendamos que os clientes recebam profissionais da beleza em suas residências.
No momento estamos buscando e analisando alternativas para sanar toda crise financeira causada por esse vírus, renegociando com fornecedores e em busca de uma linha de crédito de capital de giro. E torcendo pela redução da curva de contaminação para que possamos voltar à nossa rotina; lembrando que somos uma empresa totalmente voltada para os cuidados e zelo da biossegurança com todos os clientes e colaboradores”.
O ramo de salões de beleza foi atingido na veia com essa crise. O Linda Flor, de Emmanuela Azevedo, que fica no Espaço Conviva (km 9), anunciou que estará fechado até pelo menos 15 de abril. Os funcionários entraram de férias e, segundo a empresária, os que têm carteira assinada estão sendo pagos com recursos próprios da empresa e os que são microempreendedores individuais estão se cadastrando para receber o benefício do Governo. ‘Para estarmos mais próximos de nossos clientes, temos usado ao máximo as redes sociais. A ideia é que as pessoas sintam a mesma vontade de estar no Conviva. Estamos com saudades, mas sabemos a importância do isolamento neste momento’, declara.
Tomassa
A Tomassa, pizzaria do km 9, teve uma queda de cerca de 70% em seu faturamento. Dos seis funcionários, quatro foram mandados para casa e segundo Rodrigo Cruz – proprietário junto com Rosa Santana –, se não houver um incentivo rápido do Governo, terá que demiti-los.
‘Um problema grande aqui em Aldeia é a falta de motoqueiros para realizar o serviço de delivery. Tenho conversado com outros negociantes da região sobre o assunto. Precisamos nos reinventar! Tenho esperança de que a curva de pedidos aumente e possamos trazer de volta os funcionários que mandei pra casa’, torce Rodrigo.
Mesmo com as dificuldades, a Tomassa tem se destacado por uma ação simples, mas de grande impacto simbólico. A cada dois dias escolhe uma unidade de saúde da Região Metropolitana do Recife e manda entregar pizzas, como cortesia, aos profissionais de saúde como forma de alegrar um pouco a rotina deles.
Viva la Vida
A creperia Vila la Vida (km 9) tinha acabado de ser inaugurada quando começou o “toque de recolher” dos bares e restaurantes na região. Segundo Verônica Azevedo, que organizou o local junto com o marido Álvaro da Fonte e o filho Marcos (na foto acima), houve uma quebra significativa nos planos da família e do estabelecimento. “Nosso produto não é o feijão com arroz de todo dia. É um produto que tem uma saída mais nos fins de semana e à noite, ideal para um programa em família ou com amigos. Não havíamos nos fixado com opção de entrega, estamos tendo que rever tudo”, conta.
Como a creperia faz parte de uma galeria, da qual fazem parte o Ceça Bistrô, Sabores da Carla, Docetino e Tapioca da Help, Verônica diz que o coletivo está negociando com o proprietário do local um ajuste provisório no valor do aluguel, pois todos estão sofrendo com a crise.
“No nosso caso, o fato é que estamos operando no vermelho e, por uma questão de solidariedade, estamos mantendo nossa única funcionária com salário integral. Os custos inclusive aumentaram, pois para evitar o deslocamento da funcionária em ônibus, estamos pagando uber para ela”.
O delivery está funcionando de sexta a domingo das 18h às 22h*.
A loja de produtos animais inaugurada há pouco tempo na Galeria Palatino (km 5) também precisou se adaptar. Agora entrega rações e acessórios, e busca e leva o cão em casa sem custo para os moradores de Aldeia. Segundo a empresária Stefanny Crespo, o único funcionário da empresa continuou trabalhando e recebendo o salário integral.
“Por sermos considerados um serviço essencial, mantivemos nossas atividades redobrando os cuidados com higiene e limpeza no petshop. Estamos marcando horários individuais para cada animal e aconselhamos nossos clientes a não ficar no petshop esperando o banho para evitarmos aglomerações”.
Ela explica que houve uma queda no volume de banhos, “mas ainda há uma quantidade significativa de clientes que, mesmo com o risco, não abrem mão de cuidar da higiene do seu pet”.
Já a JR Rações, uma das mais antigas lojas de produtos animais da região, está se saindo bem nesses primeiros dias de quarentena. Segundo o empresário José Roberto da Silva, o movimento em loja continuou igual e o delivery teve um aumento de cerca de 50%. ‘Como loja de ração é comércio essencial, não tivemos a ordem de fechar nessa quarentena. Temos doze funcionários trabalhando em horário normal e tomando os devidos cuidados, utilizando álcool e máscara’, resume.
Num primeiro momento o movimento da Quitanda (km 10) aumentou em 10%, já que as pessoas correram para estocar produtos com medo de um possível desabastecimento, mas depois o faturamento se estabilizou, segundo Samara Campos, a proprietária. Os 40 funcionários estão trabalhando normalmente e o setor de delivery tem tido um grande peso na rotina atual. ‘Chegamos a fazer 50 entregas em um único dia, mas vimos que ficava difícil para atender de uma forma efetiva e agora limitamos a 40 entregas diárias no máximo’, explica a empresária.
Mesmo investindo bastante no delivery, para evitar que os clientes saiam de casa, a Quitanda investiu também na prevenção dos funcionários e consumidores que preferirem ir à loja. Todos os carrinhos e cestas são esterilizados após o uso, há dispensers de álcool em gel espalhados pelo ambiente e foram colocadas barreiras de acrílico nos caixas para proteger tanto os funcionários quanto os clientes (foto).
Supermercado Villa Aldeia
O Villa Aldeia é outro que ainda não vem sentindo os efeitos negativos do coronavírus. Como serviço essencial, não pôde fechar nem afastar nenhum funcionário. Assim como na Quitanda, houve até um pequeno aumento no faturamento, já que nos primeiros dias muita gente correu para fazer estoque e depois disso o serviço de entrega teve um crescimento expressivo.
Segundo Luciano Andrade Lima, são 40 entregas diárias e o sufoco tem sido para dar conta de tanto trabalho. Ele diz que seus 73 funcionários estão indo trabalhar normalmente e foram orientados quanto às medidas de higienização no trabalho e nas casas deles. “A gente não pode parar, não posso mandar ninguém pra casa neste momento”, relata.
Para Luciana, esposa de Luciano e responsável pela área financeira da empresa, “para o nosso setor ainda está bom. Nossa preocupação é quando acabar o crédito”, ressalta.
“Outra coisa é que nem todo mundo entende que também estamos nos arriscando para que as pessoas tenham os produtos nas prateleiras para comprar. Bate medo de pegar a doença, temos filhos pequenos, mas sentimos uma satisfação muito grande também. É importante que as pessoas valorizem toda a cadeia, desde quem produz até quem transporta e quem vende as mercadorias”, declara.
A Lavanderia Aldeia, outro serviço essencial, permanece com funcionamento normal, segundo Heloísa Barza, a proprietária. A diferença é que agora o atendimento é feito a um cliente por vez e o cliente deve levar suas roupas em sacos plásticos lacrados, manter um metro de distância dos atendentes, separar suas roupas no balcão e higienizar as mãos na entrada e na saída do estabelecimento com o álcool em gel disponibilizado no local.
“Todos nós usamos máscara e luvas e também passamos desinfetante nos balcões após cada atendimento. Outro detalhe é que só manuseamos as roupas dos clientes no dia seguinte porque alguns especialistas dizem que o vírus sobrevive seis horas nos tecidos, mas outros dizem outra coisa. Então, para garantir, esperamos até o dia seguinte para manusear. Fora isso, está tudo absolutamente normal aqui na empresa. Tem muita gente, inclusive, que se preocupa em higienizar bem as roupas por conta do Covid”, salienta Heloísa.
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