Quem participa de grupos de WhatsApp de Aldeia já percebeu a quantidade de gente perguntando por imóveis para alugar desde que começou a quarentena da Covid-19, em março. Muita gente escolheu a nossa região para se refugiar, já que é próxima do Recife, tem toda a infraestrutura de serviços essenciais, restaurantes com entrega em domicílio, internet de alta velocidade e, para completar, áreas verdes, espaços abertos e a possibilidade de dias mais agradáveis do que para quem está confinado em apartamento.
Há quem tenha vindo ocupar uma casa que já tinha para fins de semana e há quem tenha vindo para Aldeia pela primeira vez. Há quem já esteja ansioso para voltar para a vida agitada da cidade grande, mas há muitos que estão tão satisfeitos com o novo estilo de vida que já até decidiram que daqui não saem mais.
É o caso de Tiago Versalles, Fritz Kiemle e seus filhos de quatro patas Sun e Sonne – pai e filho da raça Golden Retriever – que já moraram em Aldeia, mas tinham se mudado para a Rua da Aurora. Assim que a pandemia de Covid-19 chegou ao Brasil, o casal começou a pensar na volta. No primeiro dia de abril eles alugaram uma casa e trouxeram suas coisas para cá. “Achamos que seria muito mais seguro passar essa quarentena aqui, especialmente porque tínhamos uma rotina de descer do apartamento quatro vezes por dia pra passear com os cachorros. Isso ficou complicado por conta da possibilidade de contaminação no elevador. Aqui temos jardim, podemos soltá-los e nos mantermos seguros’, conta Tiago, que é designer gráfico e trabalha em home office.
Ele diz que a decisão de virem pra Aldeia foi a mais acertada possível. Tanto é que já decidiram ficar para sempre. “A gente já não se vê mais morando no Recife, principalmente porque a pandemia vai deixar um rastro de insegurança e incerteza ainda por muito tempo. Vamos ficar!”, comemora. Tiago conta que não sente falta de nada e, mesmo morando “no meio do mato”, tem recebido tudo em casa, “de cogumelo a frutos do mar”.
Mais do que a disponibilidade dos serviços, o que atrai Tiago e Fritz é o contato com a natureza. “É um grande privilégio ser abraçado por esse verde e ouvir os sons da natureza. Essa quarentena vem pra ensinar a gente a valorizar coisas mais simples que a gente não valoriza no dia a dia”, conta Tiago, que agora aproveita o tempo de folga para brincar com os cães e fotografar. Apaixonado por fotografia, diz que “não tem um dia que não fotografe um pássaro diferente, um bando de saguins, uma preguiça, lagartos e insetos de todas as formas e cores, coisas que você não vê no Recife de jeito nenhum”.
Quem também já está convencido a ficar de vez por aqui é o empresário do ramo da tecnologia Gerino Xavier. Ele tem casa em Aldeia há anos, mas tinha escolhido morar na cidade para ficar mais perto do trabalho. No início da quarentena, veio com o filho Caio, de 11 anos, e desde então está descobrindo que pode, sim, levar uma vida mais tranquila sem prejudicar o desempenho profissional.
“O deslocamento para o trabalho sempre foi o maior empecilho para eu vir morar em Aldeia. Mas agora percebo que é perfeitamente possível trabalhar com minha equipe presencialmente apenas uma vez por semana. Depois de um período de adaptação, consegui impor disciplina aos meus colaboradores e vejo que o trabalho em home office dá bons resultados. Eu mesmo tenho aproveitado meu tempo com muito mais qualidade. Já decidi que vou continuar em Aldeia quando a quarentena acabar”, relata Gerino. “Entre uma reunião e outra faço uma comida no fogão a lenha, brinco com meu filho, dou uma volta no quadriciclo pela mata. É outra coisa! Sem falar que posso ficar descalço e de bermuda o tempo todo. Na hora da reunião virtual, visto uma camisa mais arrumada e pronto!”, diverte-se.
A experiência de estar em contato com a natureza tem sido muito intensa para o empresário. Ele conta que já deu nome (Libório) a um sapo que o acompanha diariamente quando ele vai dar comida às galinhas. “Tenho aprendido a me relacionar melhor com os animais, já fiz vários amiguinhos aqui. Também tenho botado comida para os passarinhos, que vêm comer bem perto da minha mesa de trabalho. E, no fim da tarde, aparecem muitos sons diferentes de rã, cigarra e grilo. As pessoas que estão em reunião comigo até comentam que devo estar no meio do mato”, conta.
O diretor de teatro José Manoel também veio passar a quarentena em Aldeia. Trouxe o pai, quatro irmãos, duas sobrinhas e duas sobrinhas-netas. Ele diz que foi a forma que encontrou de manter todo mundo em segurança e com conforto. A casa, alugada no condomínio Haras de Aldeia (km 20), segundo ele é simples, mas suficiente para acomodar todo mundo. “Tenho trabalhado em home office, o que é cansativo, mas as caminhadas que faço pelo condomínio no final da tarde restabelecem minhas energias”, conta.
A ressalva que o também dramaturgo tinha em relação a vir para Aldeia era em relação às quedas de energia e à falta de sinal para celular e internet, mas confessa que se surpreendeu, inclusive com a qualidade dos serviços de supermercados e farmácias. “A Celpe ainda tem um atendimento lento, poderia melhorar, mas de resto estou bastante satisfeito”, atesta.
José Manoel, que se diz “uma pessoa muito urbana”, afirma que não tem sentido falta da cidade. “O tempo muda muito, é outro ritmo de vida. É muito agradável caminhar, descobrir flores, frutas e animais, ouvir os sons da chuva, das cigarras e dos pássaros. Tem sido uma vivência incrível e, se não fossem meus compromissos no Recife, eu ficaria em definitivo”, garante.
Mas nem todo mundo tem a mesma impressão e as mesmas necessidades. Hermelinda Coutinho, que veio para sua casa de campo com o marido Antônio Carlos Alves da Silva, no início de maio, conta que os dias têm sido tranquilos, mas sente falta de muita coisa. “Sinto muita saudade dos meus filhos, que têm suas vidas na cidade, e acho que aqui o comércio é precário, a estrada é ruim e faltam clínicas e hospitais. Gosto de vir a lazer, mas não para ficar muito tempo”, diz. “No momento, estamos vivendo a rotina de isolamento social aproveitando o canto dos pássaros e das cigarras no final da tarde, mas sou bem urbana, pretendo voltar para o Recife no fim de junho”.
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