Não é só sobre você e eu. É sobre todas as pessoas, e pensando primeiro em quem precisa de mais atenção. O coronavírus, também conhecido como novo corona ou COVID19, tem alta capacidade de disseminação, é menos letal do que muitos outros vírus e afeta, de forma mais forte, três grupos populacionais: idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas. A imunidade baixa é caminho para a possibilidade do contágio. Então, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declara pandemia, ela cria um alerta mundial para a adoção de esforços coletivos, com alta responsabilidade governamental, que diminuam a velocidade de disseminação do vírus, assim como ações de fortalecimento das políticas públicas nacionais para cuidar das pessoas. Neste momento, apesar da preocupação e do medo pelo desconhecido, não podemos criar pânico, precisamos de serenidade, solidariedade e responsabilidade coletiva.
Vocês topam ir além nessa leitura? Bora!
Quando um assunto tão grave afeta a nossa forma de viver, é preciso sair da análise superficial e trazer ao debate outros aspectos presentes, mas não ditos. Vivemos numa sociedade profundamente desigual. Até aqui nada de novo. Mas o quanto se sabe disso não é a mesma proporção do que se faz para reduzir até erradicar a desigualdade. Então, quando se fala que o vírus é democrático, eu desafio a gente a pensar desde outra perspectiva. Vamos lá?
Vamos tomar o Recife como território de exemplo. A prefeitura estabeleceu mais de 12 ações no Plano Municipal de Contingência – COVID-19 para os próximos meses. Essas medidas são de suspensão de serviços públicos de esporte e educação do setor público e privado, e também incentiva o uso do Procon em casos de abuso de preços do álcool em gel, por exemplo. Além disso, ampliou o envio da informação sobre a prevenção da disseminação do vírus e está, constantemente, lembrando a população de lavar as mãos, usar álcool em gel e cobrir a boca ao tossir com a parte interna do braço.
Massa?! Agora pensemos no impacto das medidas acima.
Como providenciar comida para as crianças que tinham, na escola e na creche, a(s) única(s) refeição(ões) do dia?
Considerando a alta taxa de desemprego no Recife (147,3 mil pessoas, o que representa 17,4% da população economicamente ativa), quem pode dizer que não vai trabalhar, se não tiver o aval do patrão? Quem vive de bico e como vendedor/a ambulante faz o quê para levar o pão para casa?
Muitas áreas do Recife não têm água encanada por 3, 4 ou 5 dias, então, como residências numerosas vão lavar as mãos a cada 15 minutos?
Os bairros da RPA 2 e 3, de onde eu venho, são exemplos disso. Como manter a boa imunidade de uma população grande vivendo nas ruas da capital pernambucana? Essa pergunta me foi feita hoje, por uma jovem do Ibura.
Será que a gente pode contar com a solidariedade da classe média, que, eu sei, luta muito para ter o que tem, mas precisa entender que a dispensa da empregada ou do caseiro precisa ser remunerada? Como ficam os profissionais liberais que vivem da demanda espontânea dos serviços? Para não me estender mais, como estão, psicologicamente, as equipes das unidades de saúde básica e os hospitais públicos que já viviam situações muito duras sem o coronavírus? Recai sobre a mulher o cuidado redobrado, o cuidados dos parentes, o carregar da lata d’água na cabeça. E, sobretudo, no corpo da mulher negra, nos corpos negros e periféricos.
Difícil chegar até aqui na leitura. Mas concordas que é necessário mergulhar no tema?
Então, esse é o momento da gente entender o quão é urgente erradicar as desigualdades. Exigir saneamento de qualidade, água limpa na torneira todos os dias, em todas as áreas da cidade, do estado, do país. É tempo de entender que respostas eficazes para endemias e pandemias são possíveis com investimento programado e constante na educação, na saúde, no trabalho e na seguridade social.
Mas, diariamente, é preciso também combater fake news e denunciar atitudes irresponsáveis de autoridades como as do presidente Bolsonaro, que desobedeceu a autoridade em saúde no Brasil e colocou a população em risco. Bolsonaro, que teve contato com 11 pessoas, no mínimo, confirmadas com o coronavírus. Ele não é capaz de cuidar das pessoas, com todas as dimensões que a palavra cuidado carrega. Por isso, precisamos fazer um clamor à responsabilidade dos deputados e das deputadas para revogar a PEC95, conhecida como a que congela os gastos em saúde e educação pública por 20 anos. Defender o SUS e as universidades públicas é uma ação governamental imprescindível ao cuidar de um país, neste caso, do nosso Brasil.
É de cuidado que a gente precisa para trazer soluções amplas e urgentes. É na responsabilidade que a gente se baseia para entender as diferentes necessidades devido à desigualdade fundada em gênero, raça e classe. É serenidade que a gente deve respirar para não levar ao caos. É na solidariedade às pessoas que a gente deve calibrar nossas ações cotidianas. É o afeto revolucionário que a gente precisa plantar para colher futuro.
Imagem: Pixabay
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