O título pega carona na música de Vinícius de Morais, na tentativa de tornar mais compreensível um tema tão desafinado em nossos dias: falamos do SINTOMA. Que espécie de fenômeno nos acomete mexendo com nossos sentidos, roubando as nossas melhores horas de sono e descanso, perturbando o prazer da alimentação, provocando um turbilhão de sentimentos de ansiedade, angústia, medo, pânico, incertezas, mas de quê?
De um futuro sem garantias e de um passado que já não nos descreve; restando-nos o presente, o aqui e agora, que também não nos identifica. O que fazer? “E por falar em paixão, em razão de viver, onde anda você?”.
Sob a pele de tantas manifestações, dores, reações, máscaras e proteções, multifacetas que nos defendem das ameaças externas, do outro, da relação tóxica, do que está fora e eu não conheço, como também do que está em mim, que desconheço. Todos, sintomas que marcam nossa identidade como pessoa, expressões mais vívidas e reais de nós mesmos, traduzindo o modo como aprendemos a viver, a sentir e a nos relacionar com o mundo.
“Hoje eu saio na noite vazia, numa boemia sem razão de ser” – por que? como enfrentar o vazio de nossas ausências de propósitos, de valores marcantes sabidos, fazendo-nos encarar o espelho na pergunta que não tem resposta: como saber a medida da dose das coisas? Tarefa difícil e dolorosa.
Freud já nos alertara para o cuidado e atenção para com os sintomas na descoberta da ciência da psicanálise em seus primeiros estudos sobre a histeria em mulheres: verdadeiras simbolizações de traumas vividos e não respondidos, que retornaram na tentativa de serem novamente resolvidos, atendidos. Aprendermos a olhar com cuidado a mensagem de que ele se serve e nos quer comunicar é muito importante, e se assim não for possível, pedirmos ajuda de profissional psicólogo ou psicanalista para que assim possamos aliviar os nossos pesares físicos, mentais, psicológicos, trazendo à luz lembrança de fatos em palavras, para assim conviver melhor e compreender nossos incômodos.
Estar mais perto de um estado de felicidade é um desejo humano bastante comum. E por que não? Para concluir: “E por falar em saudades, em razão de viver, você bem que podia (me) aparecer, nesses mesmos lugares, nas noites, nos bares, onde anda você?”.
Ana Paula Ponce Lucena é aldeiense, psicanalista em formação e fonoaudióloga.
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