Nas últimas semanas, as escolas do país foram surpreendidas com uma publicação em uma rede social que orientava os estudantes a não pedirem autorização aos seus professores sobre a necessidade de ir ao banheiro ou beber água. O vídeo publicado gerou tumulto em salas de aulas de todo o Brasil. Quando algum professor desautorizava a ida ao banheiro, prontamente os estudantes contrariavam a decisão em virtude da publicação.
Não busco aqui questionar a necessidade ou não dos estudantes quanto à ida ao sanitário. Afinal, necessidades fisiológicas são inquestionáveis, logo, inegável em sala de aula ou qualquer outro ambiente. No entanto, se busca refletir até que ponto outras pessoas podem interferir dentro do ambiente escolar. Mais precisamente, dentro das salas de aulas. Quando se fala em educação, todos querem questionar, opinar e demonstrar autoridade na área, ouvem advogados, autoridades, intelectuais e não escutam o professor.
Um professor – licenciado – durante os 4 anos de uma graduação, normalmente, estuda a legislação nacional e entende que a Constituição garante o direito de ir e vir. Todavia, professores estudam também sobre a escola enquanto instituição formadora de seres pensantes e modificadores de sua realidade, como afirmou Paulo Freire. Assim, têm o dever de ensinar sobre respeito, educação e tantas outras virtudes.
Um estudante, ao questionar sobre a ida ao banheiro ou a saída do ambiente da sala de aula, não está submetido à decisão do professor, pelo contrário, exercerá respeito, empatia, compreensão e ética, virtudes necessárias para a vida em sociedade. A escola tem o dever de formar homens e mulheres a serviço da democratização, ou seja, responsáveis pela transformação da sociedade. E essa transformação começa dentro das salas de aulas, com professores e estudantes juntos.
O que se percebe é o desvio no real problema da educação no Brasil, que, sem dúvidas, não é a autorização ou não do professor quanto à saída dos alunos ao banheiro. A educação brasileira grita por investimentos, valorização dos professores, melhores condições para que a escola possa cumprir seu papel e sua função social. A preocupação de influenciadores digitais, ao invés de instigar discussões desnecessárias, deveria ser priorizar em suas redes sociais a cobrança aos governantes da garantia de uma educação de qualidade para todos.
Leonardo Santos é professor da educação básica e mestrando em Educação na UFPE
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