Moradores de algumas localidades de Aldeia não aguentam mais as constantes quedas de energia. Já tem gente querendo ir embora daqui, tem gente perdendo eletrodomésticos com as oscilações elétricas e tem gente passando noites sem dormir por conta do calor e das muriçocas. As reclamações nas redes sociais são cada dia mais constantes e indignadas. Até recentemente a companhia tinha um interlocutor na área de Aldeia, com quem a população contava sempre que havia algum problema. De uns tempos pra cá, segundo moradores ouvidos pelo Aldeia da Gente, é só silêncio e descaso.
“O que eu mais quero agora é ir embora de Aldeia. Não tenho qualidade de vida sem energia em casa. Moro aqui há onze anos, já sofria com alguma falta de luz, mas a situação piorou 1.000% depois da construção do centro de treinamento do Retrô, aqui no Oitenta, de uns seis meses para cá. Isso deve ter desestabilizado a rede, porque desde então a energia falta pelo menos quatro vezes por semana e por muito tempo”, reclama Fernanda Navaes, empresária que chegou a passar 48 horas seguidas sem luz, em março.
Fernanda relata que já consertou a máquina de lavar cinco vezes em um ano e meio e passou maus momentos recentemente, ao chegar em casa de madrugada e não poder entrar porque seu portão é elétrico e estava faltando energia. “É desgastante demais, desanimador. E para piorar, apesar de eu fazer de tudo para economizar energia, a conta dobrou de valor este mês. Está todo mundo reclamando disso aqui no Oitenta”, diz ela, acrescentando que já abriu duas reclamações no Reclame Aqui contra a Celpe, mas já perdeu as esperanças.
O Oitenta é uma das áreas mais críticas e foco do maior número de reclamações nas redes sociais. Ned Cavalcanti e Annete Honório (foto), que moram desde 1975 naquela localidade, contam que há 45 anos sofrem com a falta de energia quase que diariamente. Hoje, ambos com mais de 80 anos, relatam que a situação é ainda pior que quatro décadas atrás.
“Já chegamos a perder todos os eletrodomésticos de uma vez e a Celpe terminou nos indenizando por isso. Mas hoje em dia a energia cai diariamente e passa muitas horas para voltar. Esta semana as resistências de todos os chuveiros queimaram e tivemos que tomar banho frio”, conta Ned. Revoltado, o morador, que é engenheiro, diz que o problema exige uma análise técnica mais aprofundada e um investimento específico, já que a demanda por energia na área tem crescido muito, com uma população cada vez maior e a instalação do campo do Retrô.
“O mundo moderno foi construído para dependermos de energia para tudo. Isso significa que quem presta serviços de energia deve zelar pela eficiência e a presteza. Não podemos ficar seis, doze horas sem energia ao longo do dia”, indigna-se Ned.
Indignado também está o engenheiro eletrônico Rudrigo Maciel (foto de capa), morador do condomínio Torquato Castro I onde, durante uma chuvarada no dia 16 de abril, a energia caiu, por volta das 15h, e só voltou tarde da noite em algumas casas e, na tarde do dia seguinte, em outras. Diversos moradores tiveram aparelhos eletrônicos queimados, mas o pior nem foi isso. Segundo ele, mais grave foi a forma como a Celpe tratou do assunto.
“Como foram mais de 50 bombas d´água, televisões, transformadores e outros equipamentos queimados, abrimos reclamações pelo site da Celpe e fomos informados de que para termos os prejuízos ressarcidos não mexêssemos nos aparelhos e esperássemos dez dias pela visita de um técnico. Dez dias mais tarde recebi, não uma visita, mas uma carta com uma grande lista de providências a tomar, inclusive a ida a duas assistências técnicas diferentes para a obtenção de laudos!”, detalha Rudrigo.
“Isso é uma armadilha! São exigências inexequíveis num momento em que as oficinas estão fechadas por lei e que não devemos estar nos movimentando e nos expondo. A Celpe faz isso porque não é fiscalizada por quem deveria, que é a Aneel, e assim milhares de famílias no Estado são prejudicadas todos os anos, porque não conseguem cumprir o que a companhia exige, e fica por isso mesmo. Estou revoltado com essa postura enganosa da Celpe”, desabafa.
Rudrigo perdeu um microondas e um portão eletrônico. Juntando tudo, calcula o prejuízo em cerca de 500 reais, mas diz que consertar os aparelhos não é um problema tão grande para ele, o que lamenta é a conduta da empresa. “Isso é uma agressão: a carta fora de contexto, a informação desencontrada, a orientação para termos contato com outras pessoas, e tudo isso assinado por um ‘gerente de experiência’. Que experiência ele quer gerenciar?”, questiona.
O Aldeia da Gente tentou contato com a Celpe, mas até o fechamento desta matéria não obteve sucesso.
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