Uma prosopopéia lúdica ou uma “loucura imaginosa’’, como diria Maximiano Campos ao folhear este “Vista encantada”, composto pelo talento, em dose dupla, de Maria Elizabeth Freire e Fernando Gusmão.
Personagens se destacam pela sublimação do insano. A narrativa transcorre com predominância na primeira pessoa, abraçada ao lúdico, ao uso da linguagem telúrica, sem, todavia, apelar para o artifício do escrever errado para certificar o dizer dos não letrados, um aspecto elogiável no labor de quem enfoca as artes dos grotões.
Chama a atenção habilidade das conexões sutis, entrelaçadas, qual siamesas, entre as doidices de Guarda-roupa e Dido, o falar sofisticado de um ou de outro, contudo, confere exotismo e inibe autenticidade, quando aqui e ali é notada a ausência do coloquial na voz dos protagonistas.
No entanto, tal pecado sucumbe à criatividade no tratamento dos “causos” nascidos da verve dos autores. Não obstante a perene insanidade, digressões históricas surgem no vai e vem, no sobe e desce da burrama, vislumbrando ainda caracteres geográficos, um misto de crendices de mãos dadas com o sagrado e o profano, além de aspectos sociológicos.
Com prefácio da escritora Lourdes Rodrigues e projeto visual de Ricardo da Cunha Melam, o livro foi editado pela Nova Presença e impresso na Luci Artes Gráficas. Os exemplares podem ser adquiridos no www.amazon.com.br.
*Paulo Caldas é aldeiense e escritor
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