Na semana em que se comemora o meio ambiente, as reflexões de quem se sensibiliza com isso, aumentam. Há de se imaginar inclusive que se reflita mais sobre nosso papel no mundo, sem que tal atitude aterrisse na pista da filosofia popular.
Quando vim residir na serra de Aldeia, em Camaragibe, frequentei muitos bares à margem dos pequenos riachos que cortam – ou cortavam? – a cidade. Não foi somente uma vez que quase me indispus com donas de casa desavisadas a jogarem lixo doméstico em saco plástico no curso d’água. Um velho amigo com nome de filósofo, Sócrates Olímpio, me ajudava na forma de admoestar tais pessoas. Mas, como dizia minha mãe: “entrava num ouvido e saía por outro”.
Gente parece ser, em sua imensa maioria, insensível às coisas da Terra, supondo que os recursos naturais existentes são eternos. E esse tipo de gente em geral frequentou pouco as bancas escolares. Nos meus tempos de escola primária, minhas duas professoras podiam não saber o significado de ecologia, meio ambiente ou algo parecido, mas possuíam uma sensibilidade para a parcimônia, para a preservação e para o conhecimento de que somos efêmeros e nossa passagem no mundo tem que ser pelo menos correta. E essa correção se refere primordialmente à conscientização de que a escassez sempre ganha.
Nesses tempos difíceis de Covid-19, há ainda seres humanos a não crerem no perigo que correm e imaginam que estar vivas transcende um vírus letal, ou uma “gripezinha”, como alcunhou o atrapalhado presidente da República. Ambientalistas entendem melhor esse tipo de praga e sabem que tais ocorrências pandêmicas existem porque algo anda errado e os terráqueos estão agredindo o meio ambiente de tal modo a dar lugar a tais epidemias. Pior é que tudo isso pode levar o planeta a uma decadência geológica, e quem sabe moral.
O desperdício de alimentos no mundo é algo incalculável. Jogam-se toneladas de produtos que poderiam ter sido consumidos caso se levasse em conta essa parcimônia já mencionada aqui. Houve um tempo em que era chique se deixar um pouquinho do pasto no prato. Esse refinamento, em nossos dias, é perfeitamente dispensável. Estima-se que mais de um bilhão de pessoas estejam no limite da pobreza total. E consequentemente esse quadro não se reduzirá se os esforços de países e organizações não se concretizarem rápido e agora. A atitude mais comum nesses dias enrascados é se jogar lixo nas ruas. Por mais duma vez presenciei, a bordo de um BRT, uma mãe incauta jogando o papel da bala dada ao filho, fora da lixeira. Mas não se espantem se tal atitude for praticada pelo cidadão letrado daquele condomínio dito de luxo.
Numa época em que a tecnologia manda em quase tudo, o sapiens primitivo continua utilizando práticas do século dezenove. Aliás, não é preciso ser intelectual ou letrado, basta ver que num mero rodízio de automóveis, há pessoas que desrespeitam e saem no dia contraindicado. Há uma frase meio boba ouvida e lida por aí. “Não sou dono do mundo, mas sou filho do dono”. Quem repete essa frase enfaticamente é a mesma pessoa que, quando ouve nossa reclamação de que está agindo errado, acredita que queremos salvar o mundo ou torná-lo melhor.
A par do nosso descontentamento, ainda presenciamos seres mais sensíveis e que não poupam esforços para com um conta-gotas poder melhorar o curso do rio. O tipo de idealismo vai se apequenar no horizonte, quando a contemporaneidade se der conta de que os tempos atuais exigem das pessoas, letradas ou não, mais ações do que discurso inflamado e, às vezes, “pra boi dormir”. Se não agirmos incontinenti, vamos ser testemunhas de uma era perdida, de um século fadado à decadência das coisas e das pessoas. E, no final, quando os escombros já não se fizerem recuperáveis, alguns e a maioria se arrependerão de certo dia terem dito irresponsavelmente: “Não é meu nem teu…”
WALTER DA SILVA é administrador, professor e consultor de empresas
e-mail: [email protected]
Imagem: Pixabay
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