Sustentabilidade: esta palavra de sonoridade tão agradável passou a fazer parte do nosso vocabulário há pouco mais de três décadas, e se juntou a outras como Ecologia e Recursos Renováveis para fazer parte do cotidiano de conversas trazidas através do noticiário dos telejornais, e mantidas até mesmo no descontraído dia a dia das famílias, das rodas de amigos no botequim, ou mesmo das donas de casa.
Se antes estes eram assuntos restritos aos meios acadêmicos, ou em outro extremo, papo de hippies, ou dos “ecoloucos” e “ecochatos”, a partir da Eco92 que se realizou no Rio de Janeiro, ao contrário do que se imaginava na época este não foi um modismo que se esvaiu, ou mesmo se diluiu junto a outros temas da chamada contracultura. Muito pelo contrário, veio sendo fortalecido na medida em que os problemas ambientais passaram a impactar a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo e ganhou cada vez mais espaço na mídia.
No Brasil este fenômeno fez com que programas de televisão como o Repórter Eco, da TV Cultura, o Globo Ecologia, e os cadernos de Ciência & Meio Ambiente dos principais jornais tomassem a mesma importância e espaço de matérias e artigos como Economia, Turismo e até Esportes.
Com a chegada das redes mundiais de computadores, milhões de megabytes de conteúdo invadiram nossos computadores e ajudaram a trazer à tona a intricada e frágil complexidade das relações que compõem a diversidade de vida em nosso Planeta Azul. Por outro lado as empresas rapidamente entenderam que esta tendência poderia destruir rapidamente antigas formas de vender produtos e serviços, com a mesma velocidade que faziam emergir novas possibilidades e meios de “surfar nesta nova onda”.
Para citar o quão atual este tema permanece podemos destacar o exemplo da ativista sueca Greta Thunberg (foto) que, do alto de sua autoridade moral, com apenas 16 anos de idade, abalou o parlamento britânico em primeiro de maio deste ano, e fez enrubescer de vergonha e admiração os políticos conservadores daquele país através de suas declarações tão pertinentes quanto desafiadoras.
A constatação é de que as mudanças climáticas chegaram para ficar, como afirmara, ainda em 1972, o cientista britânico James Lovelock, formulador da Hipótese Gaia, segundo a qual o Planeta Terra é formado por organismos vivos que modificam seu ambiente inorgânico de maneira favorável à sua sobrevivência, formando juntos um sistema complexo e autorregulado que funciona de maneira semelhante a um único organismo vivo.
Cabe-nos agora concentrar nossos esforços para nos adaptarmos a uma nova relação de convivência com a nossa “Casa Cósmica”. Várias serão as mudanças, e vários serão os níveis em que elas deverão acontecer. Desde decisões de caráter da Governança Global, como vemos a União Europeia já tomando a dianteira, e neste exemplo citamos a substituição de matrizes energéticas poluidoras por fontes renováveis de baixa emissão de carbono como: utilização de meios de transportes movidos a eletricidade. E a própria geração de energia elétrica vinda dos ventos e do sol, ou de fontes termais, ou da variação das marés, entre outras.
Mas também, e de forma concomitante, já são percebidas mudanças no estilo de vida de milhões de pessoas que buscam uma alimentação mais natural, com pouco ou nenhum consumo de proteína animal, pois já sabemos que o cardápio posto à mesa com carne bovina é insustentável do ponto de vista ambiental.
Outra mudança significativa que toda a humanidade vai precisar adotar de forma urgente, “como se a casa estivesse pegando fogo”, é o controle sobre o consumo de água. Vários países que vivem este drama há mais tempo que o Brasil já não utilizam água tratada e portanto potável, como meio de transporte de dejetos humanos nos vasos sanitários. Estas comunidades utilizam água de reúso (água do banho, da lavagem de roupas, das pias e lavatórios etc.) para esta finalidade.
Há também uma mudança gradativa porém consistente na própria relação de como utilizamos os espaços para trabalho, e também da forma como frequentamos as salas de aula, que nos permitem remotamente exercer estas atividades, sem precisar deslocamento da nossa casa, e portanto diminuindo a nossa “pegada ecológica”.
Os exemplos que cito acima são formas positivas e assertivas que precisaremos todos adotar, de agora em diante, sob o pretexto de que se não o fizermos por bem, de forma planejada e paulatina, teremos que fazer com dor e sofrimento. Não há outra possibilidade, da mesma forma que não há outro planeta para o qual poderemos nos mudar como plano “B”.
Por isso mesmo gosto de citar um pensamento que considero bastante relevante de Mahatma Gandhi – “Precisamos todos viver mais simplesmente… Para que simplesmente outros possam viver”.
Célio Muniz é consultor ambiental e morador de Aldeia desde 2006
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