Grande parte dos moradores de Aldeia cria cães, mas muitos estão desinformados sobre os perigos da leishmaniose visceral, uma doença que o animal transmite para o humano e o humano para o animal. Não tem cura e, quando não tratada, apresenta altíssimo índice de mortalidade.
‘Assim como a dengue, a leishmaniose é transmitida pela picada de um mosquito e somente o esforço da população é capaz de combatê-la, com medidas domésticas de higiene capazes de evitar a proliferação desse mosquito’, explica a veterinária Alice Simões, que proferiu uma palestra sobre a doença na Allvet Centro Veterinário, no km 4 da Estrada de Aldeia.
Segundo a veterinária, o mosquito transmissor da doença (o flebotomíneo Lutzomya longipalpis, ou mosquito palha) pertence à família das moscas e é tão pequeno quanto uma pulga. Ele gosta de ambientes quentes e úmidos e, por isso, a Região Nordeste do Brasil – 56% dos casos no país em 2006 – é tão propícia para ele.
Além disso, ele se alimenta de matéria orgânica em decomposição, como folhas, frutos, lixo orgânico e fezes de animais, o que justifica a importância de todas as pessoas manterem seus quintais bem limpos e observarem a vizinhança.
“Quando esse inseto, que carrega o protozoário Leishmania chagasi, pica o cão ou o homem, o ciclo de transmissão se inicia. E daí em diante fica muito difícil interrompê-lo’, detalha Alice Simões.
O problema é que a doença não tem cura e mesmo quando os sintomas ainda não apareceram ou já estão controlados, o tratamento tem que continuar e o portador permanece transmitindo a leishmaniose.
Nos humanos o diagnóstico é muito difícil, razão pela qual há subnotificação dos casos no país. Mesmo assim, cerca de 3.500 casos são notificados anualmente no Brasil. Dados do Ministério da Saúde indicam que em Pernambuco foram confirmados 123 casos em 2015.
Os sintomas da doença são, entre outros, febre de longa duração, perda de peso e lesões na pele que não saram, aumento do fígado ou baço, fraqueza e redução da força muscular. Nos cães, os sintomas variam e pode ocorrer crescimento excessivo e deformidade das unhas, emagrecimento, desnutrição, queda do pelo, lesões na pele e em volta dos olhos e paralisia dos membros inferiores.
Para proteger os cães existe uma vacina disponível apenas na rede particular de saúde e, uma vez infectados, a recomendação do Ministério da Saúde é pela eutanásia, uma vez que eles serão foco de transmissão para o resto da vida.
Caso não opte por esta medida extrema, o dono do animal deve adotar cuidados para sempre, como o uso de coleiras repelentes de insetos, além do próprio tratamento dos sintomas. Qualquer descuido pode causar a transmissão da doença para outros animais ou para os humanos que convivem com o cão doente.
Já para os humanos não existe vacina e o tratamento é oferecido pelo SUS, mas também é para a vida toda. A leishmaniose visceral é uma das chamadas ‘doenças negligenciadas’, pois por ser tradicionalmente rural (urbanizou-se recentemente) e mais comum entre a população pobre, a indústria farmacêutica e os governos não investem muito nela, já que sua capacidade de gerar lucros é limitada.
Tanto no homem como no animal, a leishmaniose pode estar presente no organismo sem apresentar nenhum sintoma por muito tempo, só se manifestando em momentos de baixa imunidade. E mesmo sem apresentar nenhum sintoma, o indivíduo transmite a doença. O diagnóstico se dá por exames na lesão de pele, de sangue ou parasitológico.
Na dúvida e por precaução, faça a sua parte. E a qualquer sintoma, na sua família ou em seus animais, procure logo um serviço de saúde.
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