Apesar da aparência – para muitos, repulsiva –, as minhocas são animais fascinantes, cercados de curiosidades e de uma importância enorme para o meio ambiente.
Se você já pensou em ter um minhocário caseiro, saiba que nem é tão complicado, e, se olhar bem de perto, vai descobrir muita coisa interessante sobre esses pequenos vermes que chegam a viver entre dois e 16 anos. Vai saber, por exemplo, que elas são hermafroditas e que, quando se unem a uma outra, podem permanecer até duas horas numa cópula da qual ambas saem grávidas.
Para falar com propriedade sobre minhocas e minhocários, fomos até o Ceasa, onde trabalha Maria de Fátima Gonçalves, ex-pesquisadora do Instituto Agronômico de Pernambuco e especialista no assunto. Apaixonada pelo tema do reaproveitamento de resíduos orgânicos, ela diz que não é uma drilologista (pessoa que estuda minhocas), mas fica difícil acreditar nisso depois de se conversar com ela sobre a vermicompostagem.
Em primeiro lugar, Fátima explica, existem duas formas de produzir húmus: a compostagem, que é o reaproveitamento de material orgânico sem minhocas, e a vermicompostagem, também chamada minhocultura, que produz o húmus de minhoca, um adubo considerado neutro (pH =7,0), já que todo o material passa pelo trato digestivo das minhocas.
“São duas técnicas diferentes e ambas resultam em húmus de excelente qualidade. A diferença é que o produto da compostagem é mais forte, razão pela qual deve ser usado com moderação. Já o que é produzido pelas minhocas pode ser aplicado nas plantas diretamente e sem restrições”, explica.
Para construir um minhocário doméstico deve-se, em primeiro lugar, providenciar um depósito (balde, caixa ou jardineira) em lugar sombreado, ventilado e silencioso. Sim, as minhocas se estressam com som alto e devem ser criadas em ambiente tranquilo, como fundos de quintal.
Neste depósito, a primeira camada deve ser de material orgânico seco, como papel comum, jornal bem picado ou folhas secas. Isso servirá para neutralizar um pouco a umidade que virá com a segunda camada, que é de restos de frutas e verduras que vão alimentar as minhocas.
E por fim, são colocadas as minhocas (da espécie Eisenia andrei, conhecida como Vermelha da Califórnia) e o reservatório é tampado para evitar a entrada de insetos e do sol (elas têm fotofobia!).
“O grande segredo de um minhocário é o controle da umidade”, diz Fátima, “porque a minhoca respira através da pele e se o ambiente ficar muito úmido ela não consegue respirar e morre afogada. O ideal é uma umidade de 20% a 30%”.
Esse cuidado, segundo a especialista, é feito calculando a quantidade de alimento ofertado às minhocas, que não pode superar três vezes o peso dela própria, que é de um grama. Ou seja, se você tem 50 minhocas, o máximo que pode colocar são 150 gramas do seu lixo orgânico por dia. E só deve repor o alimento quando notar que já está acabando.
“O maior erro que as pessoas cometem é colocar mais comida do que elas são capazes de comer. Quando isso acontece, além de aumentar a umidade do ambiente, os restos de alimento fermentam, aumentando muito a temperatura e, com isso, as minhocas não conseguem a aeração que de naturalmente precisam em seu habitat”, esclarece Fátima.
Ela orienta as pessoas a começarem com um balde de 15 litros, daqueles de margarina, onde podem colocar umas 50 minhocas. Se um condomínio inteiro se interessar por um minhocário comunitário, o mais indicado é uma caixa d’água, onde se pode iniciar com 5 mil minhocas. Neste caso, o melhor é estimar previamente a quantidade de lixo orgânico produzido semanalmente pelos condôminos para calcular as dimensões do minhocário.
Como muitas vezes a quantidade de restos de alimento é muito alta, ela sugere que seja construída paralelamente uma compostagem (sem minhocas).
A pesquisadora ensina que os alimentos preferidos das minhocas são restos de cascas de frutas, que devem ser bem picadas, e folhas como alface e coentro, que são afrodisíacas para elas. Borra de café também é bem vinda. Se for usar frutas muito aguadas, o ideal é deixar secar ao relento para tirar o excesso de líquido. E, por fim, deve-se evitar restos de alimentos cozidos, dando preferência aos crus.
As minhocas podem ser adquiridas no IPA. Telefone (81) 3184 7200 (procurar Dr. Manoel Américo).
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