Quando ainda usava calças curtas, lá pelos idos da década de 1950, o menino Roberto vivia solto pegando passarinhos nos quintais das casas onde morava, no Recife e no interior do Estado. Os anos passaram, ele cresceu, virou um sociólogo reconhecido, aprendeu a falar a língua tupi, fundou um dos maiores institutos de pesquisa do país e, aos 60 e poucos anos, voltou a caçar passarinhos. Mas desta vez com uma potente câmera Nikon e lentes capazes de flagrar detalhes do balé das aves em pleno voo.
Roberto Harrop, um homem de múltiplos interesses, hoje tem 74 anos e há uma década descobriu um hobby que lhe ocupa olhos e ouvidos sempre que pode estar em sua casa no condomínio Bosque Águas de Aldeia, no km 16. Foi observando a diversidade de pássaros que se abrigavam na porção de Mata Atlântica que circunda sua casa e usando uma câmera emprestada de um amigo, que começou a fazer os primeiros registros. Agora prepara-se para lançar o livro “Aves de Aldeia”, com fotografias de 75 das 92 espécies de pássaros que identificou na região.
“Logo me apaixonei pelo hobby, comprei um bom equipamento fotográfico, li muitos livros, pesquisei e saí fotografando. Fotografei cenas curiosas, como um pássaro carregando o filhote morto para fora do ninho, um outro brincando com a própria imagem no para-brisa do carro, um gavião-carrapateiro no momento em que levantava a orelha de um boi e muitas outras aves alimentando as crias.
O mais importante, para mim, é observar o comportamento de cada espécie”, diz Harrop.
De tanto observar, ele hoje reconhece, pelo canto, a maioria dos pássaros de Aldeia. E com muita naturalidade é capaz de dizer o nome popular e o nome científico da ave. Muitas vezes é capaz, ainda, de relacionar as características de cada uma ou contar alguma curiosidade sobre ela.
Despretensioso, Roberto Harrop diz que, nestes dez anos em que vem estudando os pássaros, sempre foi autodidata. Seu “vade-mécum ornitológico” é o livro “Aves Brasileiras e plantas que as atraem”, de Dalgas Frisch, um verdadeiro tratado sobre o tema com ilustrações e dados sobre as espécies com ocorrência no Brasil. O autor, ornitólogo brasileiro mundialmente conhecido, tornou-se amigo e admirador de Harrop e acaba de escrever o prefácio de seu livro, que já está no prelo e será lançado ainda este ano.
Pintor-verdadeiro
No condomínio onde passa os fins de semana (ele e a esposa, Chizue, moram no Espinheiro), Roberto Harrop tem bastante espaço para curtir seus pássaros. São 50 hectares com bastante vegetação nativa, curso d´água e dois açudes. Uma curiosidade, segundo Harrop, é o aspecto da territorialidade de algumas espécies. “Alguns pássaros que encontro na fazenda ao lado, não encontro aqui. E vice-versa”.
Um dos atuais “sonhos de consumo” de Harrop é fotografar uma saíra-verde-de-cara-preta filmada várias vezes por uma vizinha do próprio condomínio. “Já vi o filme, mas ela nunca apareceu por aqui”, lamenta. Outro desejo bastante antigo era flagrar três pintores-verdadeiros juntos. Já havia conseguido fotografar dois, o que é raríssimo. Justamente no dia desta reportagem, teve a felicidade de ver seu sonho concretizado. Fotografou um grupo de três Tangara fastuosa. Conseguirá agora encontrar um bando de quatro?
Segundo ele, entre as aves mais comuns em Aldeia estão as saíras, os sabiás, os bem-te-vis e os sanhaçus. Entre as mais raras que já fotografou, ele cita o próprio pintor-verdadeiro e o araçari-miudinho-de-bico-riscado. No livro, de 116 páginas que está sendo editado pela Companhia Editora de Pernambuco, além das fotos haverá a descrição detalhada de cada ave. Para isso, Harrop contou com a ajuda do biólogo Glauco Pereira, que descreve ordem, família, espécie, nome popular, nome científico, nome em inglês, além de um panorama dos hábitos alimentares e reprodutivos de cada uma delas.
Enquanto o livro não é lançado, os mais curiosos podem se deleitar com o banco de fotos de Roberto Harrop, que também fotografa outros animais da nossa fauna, no Flickr.
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