O número de cães abandonados e maltratados que se vê pelas ruas das grandes cidades – e também nas pequenas localidades (Aldeia é um exemplo) – é assustador e cada dia maior. A boa notícia é que a quantidade de pessoas interessadas em ajudar e empenhadas em pensar como mitigar o problema também é crescente. A boa nova quem nos conta é Luciane Nascimento, empresária e amante dos animais que há doze anos fundou em Aldeia o Projeto Patinha (só registrado formalmente há cinco).
“Quando estava construindo a loja (ela é dona de uma loja de pedras em Aldeia), apareceu um cãozinho que era pele e osso. Num primeiro momento os pedreiros ficaram tomando conta dele, mas depois o maltrataram e eu o resgatei. Foi assim que comecei a ter a verdadeira noção da realidade do que passam esses animais abandonados e as dificuldades que eles enfrentam. E me apaixonei pela causa”, resume Luciane.
Segundo ela, a ideia do Projeto Patinha desde o início foi o de trabalhar por políticas públicas (não só de proteção aos pets, mas também os animais silvestres e de circo) e de resgatar animais em grande risco para posterior castração e encaminhamento para adoção.
“Nunca fomos nem seremos um abrigo. Trabalhamos em parceria com veterinários, pessoas que cedem ou alugam lares temporários e doadores individuais, que de forma voluntária ajudam a tratar e a castrar os animais. Depois, quando estão devidamente tratados, vacinados e castrados, os cães são microchipados e encaminhados para adoção”, detalha.
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A adoção, de acordo com Luciane, acontece geralmente nas feiras de adoção que ocorrem mensalmente no Parque de Exposição de Animais do Cordeiro, realizadas pelo Projeto Adote um Vira-lata, da UFPE. O adotante preenche uma ficha e assina um termo de responsabilidade se comprometendo a dar um tratamento adequado ao cão. Como os animais são microchipados, em casos de abandono os tutores são localizados e responsabilizados penalmente.
“De acordo com a Lei de Crimes Ambientais, maus tratos ou abandono de animais podem levar a uma pena de três meses a um ano de detenção e multa”, cita Luciane. Quando um animal é encontrado na rua e passa por um leitor de chips, o dono ou tutor é identificado e tem que prestar esclarecimentos na delegacia. Por isso é muito raro alguém abandonar um cão adotado”.
Segundo Luciane, nos últimos anos já ocorreram muitos avanços na legislação de proteção dos animais. E isso graças ao trabalho de organizações e pessoas físicas que lutam por políticas públicas. Ela mesma é a atual presidente da Federação das Associações Organizadas da Sociedade Protetora dos Animais de Pernambuco, que reúne dez entidades pernambucanas.
Em 2010 houve um movimento que resultou na aprovação em Pernambuco, por exemplo, de uma lei que proíbe a eutanásia de animais saudáveis. Essa mesma lei indica também que as prefeituras implantem programas de controle populacional via castração (a luta atual dos movimentos de proteção animal é para que a lei “obrigue” os municípios em vez de apenas “indicar”).
Outra importante conquista das organizações protetoras foi que Pernambuco se tornasse um dos estados brasileiros onde não se permite animais em circo. Mas ainda há muitas outras lutas, como o programa anti-testes em animais (junto à indústria de comésticos) e contra a vaquejada, por exemplo, que continuam na pauta de ONGs como o Patinha.
Com relação à população de rua, Luciane é taxativa: “A única medida capaz de diminuir a população de cães abandonados, em qualquer parte do mundo, é a castração. Alguns municípios de Minas Gerais e de São Paulo já são exemplo nessa área. Por isso o nosso empenho. O Projeto Patinha já está na terceira gestão de Camaragibe, mas agora estamos esperançosos porque o atual prefeito sinalizou que tem interesse em implantar um programa de controle como o que defendemos”, anima-se.
Aos 48 anos, casada, mãe de dois filhos, seis cães e um gato – vira-latas e resgatados das ruas – Luciane torce para que as pessoas se conscientizem da importância de não abandonar os animais. “É ruim para o cão e também para os humanos, pois o abandono gera doenças e causa acidentes de automóvel”, cita. “Mas tenho percebo, ao longo dos anos, que mais e mais pessoas tem se interessado em adotar um cão ou um gato em vez de comprar um de raça, graças a Deus”.
O amor de Luciane, que dedica seu tempo livre a visitar animais doentes, dar banho e organizar a papelada das adoções, é tanto que amigos e familiares já sabem: quando chega seu aniversário ou datas como o Natal, o presente muitas vezes é um valor para pagar uma castração, uma caixa para transporte de cães ou gatos, um suporte de carro para levar as caixas. Este mês, inclusive, ela faz aniversário e já foi avisada que ganhará de presente um leitor de microchip e confessa que fica muito mais feliz quando o presente é uma ajuda para o projeto.
OBS. Quem quiser colaborar com o Projeto Patinha pode doar uma castração (que custa entre R$ 100 e R$ 150), materiais para castração, medicamentos, ração ou material de limpeza. O ponto de coleta é a loja JR Rações, no km 10,5. Quem quiser apenas apadrinhar um cão doente, basta se inscrever e arcar com o tratamento e a castração até que ele esteja em condições de ser adotado.
O telefone de Luciane Nascimento é (81) 99922-9396.
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