O empresário Mário Gouveia Jr. me recebeu de bermuda, suspensório e chinelo em sua casa, dentro do parque Águas Finas, no km 17 da Estrada de Aldeia, quando lhe pedi uma entrevista, em fevereiro do ano passado. Aos 77 anos, Seu Mário me levou para conhecer o parque, orgulhoso e transbordando seu amor por aquele lugar. “Minha distração é isso aqui”, resumiu ele, que diariamente se deslocava de helicóptero para um escritório no centro do Recife. Na madrugada desta terça-feira, 23/4, foi assassinado por ladrões em sua residência.
Na conversa que tivemos enquanto passeávamos pelos açudes, piscinas e bicas de Águas Finas, me contou que seu bisavô era dono de 3 mil hectares de terra naquela região de Paudalho, mas que com o passar do tempo a área havia se resumido a 10 hectares. Criança, e ao longo de muitos anos na juventude, adorava tomar banho naquelas águas.
“Imagine o privilégio que é tomar banho de água mineral! Este é o único lugar no mundo onde as pessoas tomam banho com água mineral. Pernambuco ainda tem dessas coisas que ninguém tem”, disse, orgulhoso.
O parque foi criado pelo pai de Seu Mário, 68 anos atrás. Segundo ele, em todos esses anos o local não ficou um dia sequer fechado. “Meu pai era um homem visionário que gostava muito da natureza. Ele pensava que seria bom criar um local para alegrar as pessoas, e por isso até hoje não visamos lucro e, sim,aalegria das pessoas”, comentou. “Até houve uma época em que aqui era um pouco elitizado, mas como aqui tem pouca elite, o parque não conseguiria se sustentar. O público mais pobre gosta muito daqui, da água gelada que vem do subsolo, e não reclama de nada”.
Águas Finas tem cinco piscinas com tobogãs, churrasqueira, um açude com 6 metros e oito bicas, além de uma fauna variada. Não é raro ver saguins, tatus e, vez por outra, jacarés nas redondezas. Me disse o empresário, que era filho único, tinha dois filhos e morava em Aldeia há 30 anos, que para ele o local era muito mais que um parque, “era um refúgio”. Seu Mário era um homem simples, que fez questão de me mostrar sua casa e um mirante que construiu para admirar a mata. Dali ele olhava a natureza e curtia suas lembranças de infância.
Segundo o piloto de helicóptero Rodrigo Nogueira, que há seis anos pilotava para Seu Mário e o socorreu depois da troca de tiros na casa do empresário, “ele morreu lutando, defendendo sua família e seu patrimônio. Trocou bala uns dez minutos com uns quinze homens armados. Foi um herói. Ele era um segundo pai pra mim”, lamentou, ainda emocionado.
O próprio Rodrigo foi o primeiro a ser rendido durante o assalto. “Chegaram dizendo que eram da Polícia e que estavam procurando uma outra pessoa, funcionário do parque. Não tive tempo de reagir”, contou. O piloto chegou a ser algemado e arrastado, se ferindo na perna. Quando os bandidos foram embora, segundo ele, e estava decolando com o helicóptero para levar o patrão ao hospital, a Polícia chegou ao local (por volta das 02h30) e disparou vários tiros contra a aeronave pensando que eram os ladrões em fuga.
A morte do empresário comoveu a comunidade e acendeu mais um sinal de alerta para a questão da segurança pública na região.
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