Se a urbanização acelerada e o afastamento do meio rural faz com que a sociedade contemporânea dependa quase que exclusivamente do campo para se alimentar e se os percursos longos de distribuição do alimento apresentam logísticas frágeis, do ponto de vista de garantias de qualidade e de chegada ao destino, como garantir acesso a alimentos saudáveis em tempos de riscos, ameaças e incertezas de tudo?
E ainda, como e de quê se alimentar em centros urbanos de forma a atender às necessidades nutricionais para deixar o sistema imunológico em alta e ter a alimentação como aliada na prevenção de doenças e na manutenção da saúde?
A prática de cultivar pequenas hortas urbanas (coletivas ou caseiras) tem ganhado cada vez mais adeptos ao redor do mundo. No Brasil é possível observar que a popularização de cultivo de hortas urbanas é paralela ao aumento da procura por alimentos saudáveis, orgânicos, livres de adubos químicos e agrotóxicos. Em outros países e em situações diversas, a agricultura urbana é fundamental para garantia de certa segurança alimentar da população local.
A agricultura urbana e periurbana complementar à agricultura agroecológica familiar em circuitos curtos de comercialização garantem a diversidade e a qualidade da oferta de alimentos para a população das cidades.
Cultivar alguns itens de horta para consumo diário em pequenos espaços;, se juntar a outras pessoas que também fazem o mesmo; e criar grupos de produção, consumo e troca para construção de alternativas para segurança alimentar nas cidades, ao mesmo tempo em que contribuem para saúde individual e comunitária, não só em tempos de ameaças e crises, colabora para a qualidade de vida e para o nosso bem-viver.
Vamos nos permitir viver essa experiência!
Para começar uma pequena horta e de colheita em pouco tempo, seguem algumas dicas práticas de cultivo em nosso clima na Região Metropolitana do Recife:
• Para colher em 30/45 dias – Rúcula
Entre as espécies que se semeiam direto na terra (sem ser preciso preparar mudas), a rúcula é uma hortaliça que em nosso clima tem colheita rápida, a partir de um mês. Ela pode ser cultivada em vasos – 20 cm de profundidade é suficiente. Rica em vitaminas, principalmente vitamina C, a rúcula auxilia no aumento da imunidade do corpo.
• Para colher em 60/70 dias – Alfaces, coentro, salsa, cebolinha, tomate, pimentão, bertalha e jambu
Bertalha e jambu são hortaliças menos conhecidas entre nós. A bertalha, mais conhecida e usada na culinária do Sudeste, tem propriedades semelhantes à couve-manteiga, rica em ferro, combate anemias e fortalece o organismo.
Jambu, hortaliça típica do Norte do país, é riquíssima em nutrientes, sendo inclusive antiviral e antiasmática. É usada também na medicina natural e na produção de cosméticos por combater o envelhecimento.
Alface, coentro, salsa e cebolinha também podem ser cultivados em vasos de 20 cm de profundidade.
Já tomate, bertalha, pimentão e jambu requerem vasos com profundidade maior, de 40 cm. No caso do tomate, plantar variedades mais rústicas, como tomate-cereja, pode auxiliar no cultivo sem maiores problemas de pragas e doenças de plantas.
Espécies fornecedoras de carboidratos em pouco tempo de cultivo, além de fornecer também proteínas e vitaminas.
A batata-doce é possível cultivar em recipientes ou vasos, tipo lata de tinta de 18 litros. Cada recipiente destes é capaz de produzir cerca de 3 quilos de batata.
O milho requer um recipiente maior, 30 a 40 litros, com uns 60 cm de profundidade. Cada planta de milho, quando bem adubada (adubo orgânico), produz de duas a três espigas.
O feijão, para dar “um cozinhado”, precisa de vários pés. Então, melhor para quem tem quintal mesmo.
Em todos os exemplos de cultivo dados acima, é importante a incidência de luz solar por 4 a 6 horas diárias, além do uso de adubos orgânicos, como húmus de minhoca e compostos orgânicos (terra vegetal), que garantem a saúde fisiológica da planta, e a rega diária nas horas de sol mais ameno.
Para fazer uso de caldas naturais para controle de pragas e doenças de plantas – como calda de sabão para pulgões e cochonilhas -, soro de leite na prevenção de doenças viróticas de plantas, calda de pimenta, arruda e alho como repelente de insetos, calda de mamona como inseticida e tantas outras receitas naturais, o princípio é o mesmo: OBSERVAÇÃO DA NATUREZA E O RESPEITO A ELA!
* Simone Miranda é agrônoma pós-graduada em Agroecologia
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