O São João de 2020 vai ficar na história como o primeiro ano em que dançamos quadrilha dentro de casa, assistimos a shows de forró pelo computador, postamos fotos de festas juninas passadas e, infelizmente, constatamos que ainda nos falta muito de consciência e empatia. Lamentavelmente, apesar de toda a campanha feita nas redes sociais – pela mídia, por alguns grupos e pelas prefeituras – e a determinação do Ministério Público de Pernambuco, muita gente acendeu fogueira e soltou fogos nesta véspera de São João em Aldeia.
A tradição junina, embora muito forte na nossa região, sempre foi motivo de controvérsias, principalmente porque a fumaça e o estouro dos fogos prejudica os que sofrem com doenças respiratórias e também animais domésticos, animais silvestres, pessoas idosas, bebês e autistas. Este ano, os serviços de saúde já estão sobrecarregados por conta da pandemia, situação que se agravaria ainda mais com a chegada de pacientes com queimaduras e problemas respiratórios. Sem falar que o aparelho respiratório é justamente o mais atingido pelos pacientes de Covid-19. Como disse o procurador-geral de Justiça de Pernambuco, Francisco Dirceu Barros, “a proibição é impopular, mas estamos falando de salvar vidas”.
Nas redes sociais do Aldeia da Gente, muita gente, de várias partes de Aldeia, se manifestou, com revolta, sobre a falta de consciência e de empatia dos que insistiram em comemorar o São João da maneira tradicional, sem abrir mão de fogos e fogueiras.
“Não acreditei quando começaram o cheiro de pólvora e os estampidos…nem parecia que estamos vivendo um momento de calamidade pública global. Então, reflito, que nem no decorrer da pandemia, e por força de um decreto, as pessoas tiveram sensibilidade com a saúde alheia! Será que essa experiência, única para tantas gerações, está a nos ensinar algo? Fico muito triste com a falta de solidariedade humana!”, lamentou a advogada aposentada Cristina Wanderley, moradora do Vila Bela D´Aldeia.
Na Chã da Peroba, o biólogo Filipe Aléssio ficou impressionado com a altura e a frequência dos fogos. ‘Por volta das 18h30 comecei a escutar um som de forró muito bom, bem tradicional, mas logo em seguida começaram os fogos, muito altos, rojões mesmo. E até a hora que fui dormir, por volta de 1 da madrugada, ainda escutava. Hoje de manhã o caseiro comentou que sentiu cheiro de fogueira queimada em diversos locais em Aldeia’, relata. Para Filipe, esse comportamento individualista é um reflexo de tudo o que estamos vivendo no país, quando as pessoas se recusam a usar máscara e frequentam shoppings sem se preocupar com o risco a que estão se expondo e expondo os outros.
Em Camaragibe o Decreto Municipal 07/20 diz que “enquanto perdurar a situação de calamidade pública, fica proibido em todo o território do município acender fogueiras e a queima de fogos de artifício, em locais públicos ou privados”.
Para denunciar fogueiras e fogos, as opções são a Polícia Militar (190), ou (no caso de Camaragibe) a Guarda Municipal (153). Segundo a Guarda Municipal de Camaragibe, foram sete chamados ontem à noite, sendo apenas um vindo de Aldeia, às 22h, do condomínio Torquato II. A denúncia era de que estavam acendendo uma fogueira, mas segundo os registros do município, “o atendimento não foi feito por falta de apoio da Polícia Militar”.
O que fica?
Entre outras lições de empatia que a pandemia da Covid-19 poderia nos ensinar, quem sabe, seria a de rever nossos conceitos e formas de festejar nossas tradições. Quem sabe as festas juninas podem ser comemoradas de uma forma alegre e divertida ao som do forró, animadas por quadrilhas, com sabor de milho e a consciência de não estar incomodando ninguém? Fica a reflexão!
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