Desde o surgimento do novo coronavírus, os morcegos não tiveram mais paz. Estampando as manchetes dos jornais de todo o mundo, passaram a ser brutalmente perseguidos por pessoas que achavam que assim iam acabar com a COVID-19.
O novo coronavírus – SARS-CoV-2 – é, de fato, muito semelhante a outra espécie de coronavírus naturalmente encontrada em morcegos, o que indica que esta tenha evoluído para a forma que infecta os humanos, ou que tenham os dois vírus evoluído de um vírus ancestral, o que é ainda mais provável. Isso quer dizer que mesmo que os morcegos tivessem sido a fonte do SARS-CoV-2 isso aconteceu uma vez no passado, ou seja, o morcego não transmite a COVID-19.
Vários outros vírus que causam doenças em humanos já foram encontrados em morcegos, como os coronavírus causadores da SARS (SARS-CoV) e da MERS (MERS-CoV), o vírus Ebola, o vírus Marburg, e o vírus da Febre Amarela, por exemplo. Os morcegos apresentam uma ampla resistência aos vírus, o que permite que eles consigam conviver com uma grande diversidade de vírus sem, no entanto, desenvolver a doença. Isso acontece porque o sistema imunológico desses animais é capaz de controlar o vírus sem causar uma grande resposta inflamatória, e assim eles não adoecem. Essa característica única dos morcegos pode ser a chave para o entendimento de como podemos nos proteger de doenças virais no futuro.
Além disso, os morcegos são extremamente importantes para o meio ambiente. Muitos morcegos são insetívoros, ou seja, se alimentam de insetos, e têm um papel fundamental no controle de pragas das plantações, sendo um grande aliado dos fazendeiros. Um morcego pode capturar 1.000 mosquitos em uma hora, sendo extremamente importantes no combate a doenças veiculadas por esses animais, como dengue, zika, chikungunya, malária e febre amarela.
Muitos são frugívoros, se alimentam de frutos, e assim dispersam as sementes, e por isso são importantíssimos na regeneração das florestas. Além disso, suas fezes são ricas em nutrientes e ajudam a fertilizar o solo.
E muitos são nectarívoros, se alimentam do néctar das flores e, portanto, são responsáveis pela polinização de uma grande quantidade de plantas. Aproximadamente 70% das frutas tropicais que nós consumimos são polinizadas ou dispersas por morcegos.
De fato, os morcegos hematófagos, aqueles que se alimentam de sangue dos vertebrados são a imensa minoria desse grupo. Das mais de 1.400 espécies conhecidas de morcegos no mundo, apenas três são hematófagas, sendo que apenas uma, Desmodus rotundus, se alimenta de sangue de mamíferos e aves, as demais atacam apenas aves. Ou seja, todo esse mito em torno do morcego vampiro que suga o sangue humano é baseado em menos de 0,1% de todo um grupo de animais extremamente importantes.
Então, da próxima vez que você vir um morcego, deixe ele seguir seu caminho e aproveite para agradecer todos os serviços que eles nos prestam de graça!
E se você encontrar um morcego pelo chão na sua casa, cubra-o com um pano bem grosso e tente soltá-lo em um lugar alto, para que ele possa voar (a imensa maioria não consegue levantar voo do chão), com muito cuidado para não aproximar suas mãos ao morcego. Se for mordido, lave com bastante água e sabão e procure rapidamente o Posto de Saúde mais próximo. Se possível tire fotos do animal. Em Recife, a Policlínica Lessa da Andrade na Madalena é referência para a profilaxia antirrábica.
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Imagens: Omni Matryx por Pixabay; Gwmiddleditch por Pixabay; Merlin Tuttle; John Salazar; VCGImage; Uwe Schmidt
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