Quem vê a empolgação da aldeiense Tatiana Grillo, 42 anos, hoje, com sua produção de microverdes, não imagina os perrengues que ela passou do ano passado pra cá. Além do estresse decorrente da pandemia, ela teve que interromper sua produção de camarão no Rio Grande do Norte e ainda recebeu um diagnóstico de câncer de mama. Mas como nada é por acaso, ela foi à internet pesquisar sobre alimentação saudável e sua vida deu uma guinada.
Na pesquisa, Tati se deparou com as microverdes, que são vegetais plantados para serem consumidos ainda bem pequenos, com um nível de nutrientes altamente concentrado. “Logo eu, que nunca tinha plantado nem um pé de feijão daqueles que a gente planta num algodão, na época da escola, fui me encontrar com essas folhinhas milagrosas”, diverte-se. “Me apaixonei perdidamente e agora estou ‘virada’ produzindo e produzindo”, conta.
Graças às microverdes, ela juntou o útil ao agradável: consome alimentos ultra saudáveis, se ocupa com uma atividade que a mantém em contato com a natureza, convive com toda a família – pais, três filhos com cônjuges e netos moram e trabalham num mesmo sítio, no km 7 – e, pra coroar, começa agora a ajudar nas despesas da casa com sua nova atividade.
No sítio da família Grillo, que já foi tema de outra reportagem do Aldeia da Gente, a matriarca Margareth trabalha com artesanato de reciclados e cuida das flores; o patriarca Teixeira tem um grande cultivo hidropônico; o filho do meio, Gustavo, produz cogumelos; e o caçula Leonardo tem uma marcenaria artesanal.
Para a plantação de microverdes de Tati, que é a mais velha entre os filhos, a mãe emprestou uma parte do ateliê para a o berçário das sementes, um irmão doou a madeira para a estrutura, o outro doou a coberta e o pai orientou no plantio. “Eu paguei a cerveja para o dia do mutirão que levantou a estufa, foi muito divertido”, lembra ela.
Para garantir que vão se tornar vegetais verdadeiramente saudáveis, as sementes têm que ser orgânicas e por conta disso, atualmente, vêm de São Paulo. Depois de plantadas, passam de dois a três dias em local escuro (Tatiana as guarda numa geladeira desligada), vão para o sol por mais três ou quatro dias e já estão prontas para o consumo.
Também pegando carona nos negócios da família, Tatiana já está fornecendo as microverdes tanto para clientes pessoas físicas quanto para restaurantes, quitandas e empórios que comercializam os cogumelos do irmão. As plantinhas são vendidas ainda vivas, nos próprios recipientes em que são produzidas, ou já cortadas, em saquinhos. Atualmente ela produz microverdes de rúcula, rabanete, repolho roxo, mostarda, beterraba e cenoura. Além dessas espécies, pode cultivar outras sob encomenda, tais como brócolis, couve, cebolinha, coentro, ervilha, trigo, alface, couve-flor, lentilha, girassol, milho, salsinha, grão de bico, agrião, abóbora, espinafre, pepino, chia, erva-cidreira, capim limão e orégano.
Tati lembra que além de ser excelente para a saúde de toda a família, as microverdes são uma forma divertida de atrair a criançada para uma alimentação mais natural, já que acompanhar as plantinhas e a hora da colheita podem ser bem aproveitados para lições de ciências e novas sensações gustativas.
Quem quiser conhecer as microverdes DuGrillo uma boa oportunidade será no próximo domingo, 18/7, quando estarão à venda na feirinha orgânica de Aldeia, no km 9, ao lado da Salud.
Outra aldeiense também novata e apaixonada pelo universo das microverdes é a aposentada Vera Portela, 73 anos. Orgulhosa de sua produção, que é apenas para consumo próprio e da família, ela nos enviou um depoimento que resume bem o quanto as plantinhas podem transformar vidas:
“Falar sobre microverdes é falar de vida, cor, paz, esperança e raiva. Entrei nesse mundo quando o meu capengava. Aos 73 anos, enfrentava cheia de medos esse vírus que vem matando tanta gente, enfrentava também todas as notícias desse país caótico. As microverdes passaram a ser como uma barreira entre a pandemia e eu. Entrei de cabeça e fui seguida pela minha neta Maria, jardineira de coração. Pesquiso, compro cursos, estudo, gasto muito com sementes. Algumas crescem lindas e firmes, outras murcham e morrem. Nessa briga entre eles e eu, sempre saio ganhando: ganho quando dão certo, ganho pelas tentativas, ganho pelo prazer que me dão. Ganho ainda pelas amizades que fiz, pelas pessoas cujo trabalho passei a admirar e ganho paciência com essas plantinhas miúdas, tão frágeis, difíceis e prazerosas de cultivar”.
Cadastre-se para receber nossa newsletter.