Você provavelmente já sabe que Aldeia está dentro do maior fragmento de Mata Atlântica do Estado de Pernambuco. Que somos, por lei, uma Área de Proteção Ambiental, a APA Aldeia-Beberibe. E que aqui vivem milhares de espécies animais e vegetais que garantem o equilíbrio do ecossistema e a existência de rios que abastecem a Região Metropolitana do Recife. Mas você sabia que dentro desse tesouro ambiental que temos aqui vive, bem entocado, um animal raro e ameaçado de extinção que agora tem aparecido com mais frequência próximo às áreas urbanas? Trata-se da surucucu pico-de-jaca, a maior serpente peçonhenta da América Latina.
De nome científico Lachesis muta, a surucucu é uma serpente raríssima e de temperamento tranquilo e “inibido”. Ela prefere estar na floresta, camuflada nas folhas secas ou dentro de tocas. No entanto, no último mês, pelo menos cinco delas foram vistas em Aldeia, próximas a moradias, sendo quatro no km 20 e uma na Chã da Peroba, no km 6. Para investigar o que pode estar acontecendo, um grupo de pesquisadores foi criado, com a participação da Universidade Federal Rural de Pernambuco, do Conselho Gestor da APA Aldeia-Beberibe, do Cetas Tangara (CPRH), do Parque Estadual de Dois Irmãos e do Instituto Butantan.
“Sabemos que o desmatamento é o principal responsável pelo deslocamento dos animais de seu habitat, mas queremos entender melhor o que está acontecendo em relação à surucucu, que por ser tão rara, é também tão pouco conhecida pelos estudiosos”, conta a herpetóloga e professora Edinilza Maranhão, do Laboratório Interdisciplinar de Anfíbios e Répteis (LIAR), da UFRPE. Segundo ela, esta espécie é muito importante para o ecossistema, já que é biocontroladora, ou seja, equilibra as populações de outros animais, se alimentando, por exemplo, de pequenos mamíferos (marsupiais, roedores). Podemos dizer também que é um animal bioindicador, sua presença na floresta indica boa qualidade, no entanto o seu registro em áreas abertas ou edificadas é sinal que algo de errado vem acontecendo.
“O que precisamos com urgência é criar estratégias de conservação da surucucu em seu habitat. Ela faz parte da lista de répteis ameaçados de extinção em Pernambuco (Resolução n. 1 de 15/05/2017) e já sabemos que Aldeia, por ser um fragmento importante de Mata Atlântica – em especial a área do Exército (CIMNC), no km 20 – é um lugar ideal para sua preservação. Precisamos olhar para Aldeia e proteger essa região, e para isso precisamos da ajuda de todos, especialmente de quem mora nela”, diz a professora.
Falar sobre a preservação de cobras às vezes é uma tarefa difícil, pois muita gente tem pavor a esses animais. Mas é preciso termos um olhar de atenção e respeito à natureza como um todo. A professora Edinilza chama a atenção para quem vem morar em Aldeia: “Escolher viver em Aldeia é optar por conviver com a natureza e não só com os bichos fofos, como preguiças e saguins, mas também com cobras e escorpiões, porque cada espécie depende da outra e não é possível exterminar uma espécie sem afetar todo o bioma”.
Por isso, diz a professora, o estudo envolve o monitoramento das serpentes, que são medidas, pesadas, examinadas e microchipadas antes de serem devolvidas à natureza, mas também ações de educação ambiental para as populações que vivem nas áreas onde elas forem vistas. “Faremos visitas para conversar com as pessoas e mostrar a elas a importância da surucucu para a nossa natureza. Queremos que todos saibam que essa serpente, apesar de ser peçonhenta e chegar a 3,5 metros, é um animal muito tranquilo e que acidentes com picada de surucucu é muito, muito raro, todavia merece cuidado e atenção. E que no caso de aparecer um animal desses, a pessoa não deve tentar pegar nem matar. Existem órgãos, como as brigadas ambientais, e outros órgãos ambientais (ver lista) que realizam o resgate seguro e rápido de animais silvestres. O que precisamos é salvar a surucucu da extinção!”, ressalta.
Para saber mais sobre a surucucu e, em caso de avistar uma serpente desta espécie, colaborar com o estudo, entre em contato pelo instagram do LIAR UFRPE, enviando informações, fotos e a localização. Vamos preservar nossa fauna. Viva a surucucu pico-de-jaca!
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