Quem mora em Aldeia há mais de cinco anos deve conhecer a “novela” que é o Parque Aldeia dos Camarás, nascido como Espaço Saber e até hoje chamado por muitos de Parque dos Dinossauros (embora um dos dois seres pré-históricos que chegaram a habitar aquela área, esculpidos em tamanho natural, já tenha sido roubado). Hoje, 8 de dezembro, faz dois anos que um grupo de moradores ocupou o parque pedindo que ele fosse devolvido à população. Desde então a novela vem se arrastando e a infraestrutura ainda é muito pouco convidativa. Conheça um pouco deste enredo:
No ano de 2011, a Prefeitura de Camaragibe desapropriou o terreno de 8 hectares que fica no km 10,5, ao lado da Estrada do Cajá. Os proprietários (a família Torquato Castro) já haviam vendido a área a uma incorporadora que, para construir um condomínio, derrubou dezenas de jaqueiras, causando grande comoção entre os moradores da região. O prefeito era João Lemos.
Com a desapropriação paga com recursos da Secretaria de Educação do município, a Prefeitura anunciou que tornaria o local uma espécie de Espaço Ciência, chamado Espaço Saber. Réplicas de animais pré-históricos foram compradas e, por alguns anos, podiam ser vistas no parque, muitas vezes cobertas pelo mato alto. Por incrível que pareça, um dos dinossauros foi roubado! Por fim, ainda em 2012, o projeto do parque foi embargado pelo Ministério Público porque previa obras muito próximas à nascente do Rio das Pacas.
Mesmo com o parque embargado, a gestão seguinte, do prefeito Jorge Alexandre (2013-2016), desafetou a área para desvinculá-la da Secretaria de Educação. Com isso, o local não teria mais necessariamente um uso educativo. Na época foi criado um movimento popular chamado Espaço Saber Resiste, preocupado com os destinos do parque. E em 2015 o Fórum Socioambiental de Aldeia também criou um grupo de trabalho e apresentou ao prefeito uma proposta para o parque que previa um uso cultural, esportivo e de lazer.
Em 2018, na gestão de Demóstenes Meira, o parque continuava abandonado e embargado. Um novo projeto foi desenhado em conjunto pelo Fórum, o movimento Espaço Sabe Resiste e a Prefeitura de Camaragibe, com as instalações respeitando o distanciamento das nascentes. Foi então que o embargo foi finalmente suspenso. Logo em seguida, ainda no calor da boa notícia, foi feita uma votação eletrônica para escolha do nome do lugar, enfim batizado de “Parque Aldeia dos Camarás”.
No mês de junho do mesmo ano, mais de mil mudas de espécies nativas foram plantadas para fazer rebrotar o Rio das Pacas, já praticamente seco. O plantio era parte de um projeto do Conselho Gestor da APA Aldeia-Beberibe que previa também a implantação, no parque, do primeiro viveiro florestal do Estado de Pernambuco.
Em outubro, no entanto, uma nova polêmica ameaçou os projetos ambientais pensados para o local e teve como consequência a perda do viveiro florestal (transferido para o Parque Dois Irmãos). Sem ouvir ninguém, o prefeito Meira ordenou a abertura de uma rua passando dentro do parque para funcionar como um binário destinado a desafogar o trânsito na comunidade do Vera Cruz.
Como não havia licença ambiental, a obra foi embargada, e tanto a Prefeitura como o prefeito foram multados. Na ocasião, ressalte-se, houve muita confusão, com o prefeito agredindo fiscais da CPRH e tentando retomar a obra ilegal antes do horário normal de expediente. Os tratores só pararam com a chegada da delegada estadual do Meio Ambiente.
Inconformado por não poder construir a rua, o prefeito Meira assinou um decreto devolvendo a área à iniciativa privada. A população foi surpreendida com uma faixa na entrada do parque informando que o terreno era privado e pertencia à família Torquato Castro. A alegação do decreto era de que “havia irregularidades no contrato de desapropriação que exigiriam um desembolso de cerca de R$ 10 milhões pelo município”.
Foi contra a arbitrariedade do prefeito e o absurdo do conteúdo do decreto que um grupo de moradores articulou o ato, que agora completa dois anos, pedindo a restituição do parque. A comunidade mobilizou os empresários, arrecadou doações, organizou um café da manhã, convidou adultos e crianças e realizou um ato pacífico, com muitas atividades e discursos em defesa do parque público. Na ocasião, também começaram a ser coletas as assinaturas de um abaixo-assinado que foi entregue ao Ministério Público de Camaragibe.
Somente em junho de 2019, depois de toda a pressão popular, feita especialmente por um grupo de trabalho do Fórum Socioambiental de Aldeia, a Prefeitura de Camaragibe reviu o decreto e o parque voltou a ser público. Àquela altura, o espaço estava totalmente tomado pelo mato, sem iluminação nem segurança, e a sede, totalmente depredada.
Ainda por iniciativa da comunidade, foram realizados alguns eventos em prol do parque, como a pintura da fachada – primeiro de branco e depois, com a participação de crianças e grafiteiros, com a inscrição do nome do parque e desenhos coloridos -; o Carnaval de crianças da rede pública do município; mutirões de limpeza; e uma bênção animal no Dia de São Francisco. Tudo no intuito de mostrar a importância do local como equipamento de lazer e esportes para a população.
O Fórum Socioambiental de Aldeia, que desde o início da “novela” foi protagonista na luta pelo parque, estabeleceu uma comunicação periódica com a Prefeitura de Camaragibe – já na gestão Nadegi Queiroz, que substituiu Meira (preso por improbidade) e articulou com deputados estaduais e federais verbas de emendas parlamentares a serem investidas no espaço.
Em 2020 conseguiu uma emenda no valor de R$ 500 mil do deputado Daniel Coelho para a iluminação do parque. O processo de licitação está em andamento e deve ser definido ainda neste mês de dezembro. E uma outra, do deputado Tadeu Alencar, de R$ 100 mil, será aplicada na construção de um equipamento multicultural, uma espécie de tenda, onde serão realizadas atividades de cultura e esportes.
Outra importante contribuição foi do deputado estadual Aluisio Lessa que, por solicitação do Fórum Socioambiental, destinou emenda para a instalação da 3ª Companhia da Polícia Militar na frente do parque. O local está sendo construído com a colaboração de diversos empresários locais – que doaram material de construção – e da Secretaria de Segurança de Camaragibe. Lá funcionará também o sistema de policiamento comunitário Koban, uma equipe da Guarda Municipal de Camaragibe e a central de monitoramento das câmeras do programa De Olho em Aldeia. Tudo isso vai contribuir para tornar o Parque Aldeia dos Camarás um lugar seguro e convidativo. Um sonho antigo da nossa comunidade, uma novela que tem tudo para ter um final feliz. Tomara…
Leia o que já publicamos sobre o Parque:
https://poraqui.com/aldeia/camaragibe-volta-atras-e-parque-de-aldeia-volta-a-ser-publico/
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