Guardo a frustração de não participar do atual falar dos brasileiros. Trata-se de um jeito nascido de palavras vindas da TV. Herança ordinária recebida desde o início dos programas transmitidos em rede nacional, faz com que até pareça chique imitar as falas da telinha.
Nos dias de hoje, é fácil ouvir uma série de coisas sem sentido; a qualquer pergunta feita se tem como resposta a palavra “então”. Em seguida pode esperar que vai ouvir: então, meio que, tipo assim, magina, nossa, sério?
O idioma pátrio é violentado também pelos termos mal pronunciados por apresentadores de TV: a palavra subsídio, por exemplo, no sotaque sudestenês é dita subzídio, bem como o termo companhia virou compania. E ainda tem gente que fala o errado na maior pose. E acrescente-se, vivemos ainda, a influência de expressões em inglês: feedback, expertise, coach e uma tal compliance.
O incorporar desses termos ao vocabulário ameaça o cotidiano do nordestinês: outro dia um supermercado fazia a oferta de uma de tal “mexerica” que sempre foi conhecida por tangerina. Aqui, no mundo de Aldeia, a subserviência cultural é flagrante: uma sopa de camarão com abóbora é servida na padaria Porto Primo. Por que não dizem camarão com jerimum? Outra iguaria lá oferecida é acompanhada de carne seca, outrora conhecida por carne de charque. E não venha dizer que são diferentes.
No âmbito das transmissões futebolísticas, o hábito de importar expressões ditas por narradores sudestinos obedece ao apelo do ridículo: o jogador reclamar dos companheiros significa pagar geral, chute forte é canudo, goleada é chocolate, bronca do juiz significa tomar uma dura.
Pois bem, se a ordem é copiar, que se repita Ariano Suassuna: “não troco o meu oxente pelo ok de ninguém’’. Apôs viu…
* Paulo Caldas é morador de Aldeia e escritor
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