Se Aldeia sofre, como outras áreas de Pernambuco e do Brasil, com um desmatamento desenfreado estimulado pela especulação imobiliária, há ainda uma parcela da população que se preocupa com as questões ambientais e arregaça as mangas para preservar a natureza. Conhecemos Roberto Alencar e Virgínia Magalhães, ambos com 70 anos de idade e moradores do condomínio Haras de Aldeia, no km 20.
Quem conhece o Haras, hoje, com suas matas e açudes, não pode imaginar que seus 195 hectares eram de puro pasto para gado há pouco mais de 15 anos. Roberto e Virgínia conhecem bem essa transformação e nos contaram como tudo aconteceu.
‘Isso aqui era uma fazenda de criação de gado até os anos 1990. Foi somente em 1996 que o projeto que transformava essa área num condomínio rural foi aprovado pela Prefeitura de Paudalho’, lembra Roberto, atual síndico do Haras I (a área é dividida em duas unidades, Haras I e II). ‘Na época foi projetado um megacondomínio com heliporto e restaurante internacional que ia ter cave de vinhos e tudo. Houve muita propaganda nos jornais e então muitos médicos do Recife compraram terrenos aqui, embora nada daquilo tenha se tornado realidade’.
Um desses médicos foi o Dr. Paulo Magalhães, marido de Virgínia, hoje subsíndica do Haras II. O casal foi dos primeiros a morar no condomínio e, ao longo dos anos, ajudou a plantar milhares de árvores e participou também das administrações que pavimentaram as principais passagens para automóveis. Foram criados bosques e jardins, transformando o Haras num dos mais arborizados condomínios de grande porte de Aldeia.
Virgínia lembra que quando seus filhos saíram de casa e ela, junto ao marido, comprou a casa em Aldeia, resolveu enfrentar a síndrome do ninho vazio assumindo a tarefa de reflorestar o Haras. ‘Foi muito gratificante transformar o pasto em floresta, encher isso de verde. Hoje, a sensação de ver essas matas é de muito orgulho e felicidade. Saber que tudo isso vai estar aqui para as próximas gerações é muito bom. Até já avisei em casa: quando eu morrer, quero que minhas cinzas sejam espalhadas aqui pra eu poder tomar conta. Se alguém vier derrubar uma árvore que seja, estarei aqui para puxar a perna’, brinca.
Em 2002, Roberto, Virgínia e outros vizinhos se uniram e realizaram o que eles chamam de ‘primeira etapa do reflorestamento do Haras’, quando plantaram centenas de mudas de jacarandá, pau-formiga, ipê, canela, pitomba, pau d’arco, jenipapo, entre outras espécies, no Haras I.
Foi também por aquela época que Virgínia criou o projeto Defensores do Haras, voltado para os moradores do entorno que costumavam pegar passarinho e destruir a natureza. Ela os ensinou a fazer hortas, criar mudas e a ter uma consciência ambiental. Hoje, muitos daqueles jovens trabalham no próprio condomínio.
A segunda etapa do reflorestamento foi em 2008, dessa vez na área do Haras II, e incluiu mudas de eucalipto e azeitoneiras. Em 2016, com a chegada de novos moradores que também se interessam pela preservação do meio ambiente, foi criado o grupo Haras Natureza que, além de discutir temas como coleta seletiva de lixo, poda, reflorestamento, criação de horta comunitária, pomar, etc., já organizou dois eventos com palestras e exposições sobre meio ambiente (abertos à comunidade de Aldeia) e lançou duas edições de um jornal.
Este ano, no Dia Nacional do Pau-Brasil, comemorado em 3 de maio, iniciou-se a terceira etapa do reflorestamento, abrangendo tanto o Haras I quanto o Haras II. Para o lançamento foram convidados mais de 100 alunos de duas escolas de Aldeia, que não só plantaram árvores, como assistiram à soltura de animais silvestres – pássaros, cobras, tatus e tartarugas – pelos técnicos do Centro de Triagem de Animais Silvestres da Agência Estadual de Meio Ambiente (Cetas Tangara – CPRH).
Foi um dia muito emocionante para nós’, recorda Roberto Alencar. ‘Ver aquelas crianças aprendendo a amar e a respeitar a natureza foi uma coisa linda’. Este ano já foram plantadas mais de 3 mil mudas entre paus-brasis, ubaias, ipês, bacuparis, paus-formiga e outras, , todas doadas pela arquiteta e moradora de Aldeia Gilda Xavier. ‘Ainda há muito o que fazer.
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