Num tempo em que se veem tantos casos de violência, abandono e descaso com os animais, conhecer pessoas que se dedicam, por amor, a defender a causa desses seres inocentes, chega a emocionar. Fomos conhecer Alessandra Chaves, 44 anos, administradora, casada e mãe adotiva de oito cachorros encontrados na rua. Ela não só é uma militante dos direitos dos animais, mas arregaça as mangas, pede ajuda e usa seus próprios recursos para proporcionar dignidade a dezenas de cães abandonados.
A história de amor de Alessandra pelos animais começou na infância, quando convivia com todo tipo de animal na casa em que morava, em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ela conta que seus pais já gostavam de animais e a família criava patos, galinhas, porquinhos-da-índia, cachorros, gatos e peixes.
Depois, quando foi morar em apartamento, não achava justo criar os pets entre quatro paredes, mas desde que se mudou para Aldeia, há dez anos, começou a botar em prática seu antigo desejo de cuidar dos animais vítimas de maus tratos. “A primeira coisa que eu tinha em mente era que eu não podia ser inocente de achar que podia salvar o mundo, pegar todos os cães de rua.
Esse, aliás, é o grande erro dos acumuladores, aquelas pessoas que pegam muitos animais e depois ficam falidas e doentes, sem condições de dar o tratamento que os bichos merecem”, ensina. Foi assim que ela começou a se dedicar à castração de animais. Desde então, já resgatou mais de cem cachorros, todos em situação de risco – machucados, doentes ou esfomeados –, que tratou, castrou e encaminhou para adoção.
Depois de 20 anos trabalhando na área financeira, Alessandra largou tudo quando veio para Aldeia e há 5 anos lançou a Revista do Bairro, “porque queria muito falar de ecologia”. E também passou a ser voluntária do Projeto Patinha, que luta por políticas públicas de combate aos maus tratos aos animais. Contando com a ajuda de veterinários e donos de petshops de Aldeia, Alessandra faz campanhas junto aos comerciantes e moradores que cuidam coletivamente de animais de rua, os chamados ‘cães comunitários’. “Tem muita gente que se junta pra cuidar de um cachorrinho que mora perto de seu negócio – um dá água, outro dá comida. O que eu faço é conversar e mostrar o quanto é essencial castrar aqueles animais, para que não multipliquem a população de rua, e também dou orientações sobre vermífugos e vacinas.” Em sua própria casa – cujo endereço não revela “porque as pessoas ainda têm aquela velha cultura de abandonar os bichos perto de quem ajuda” –, ela cria oito cachorros, todos resgatados das ruas. Os outros animais que ela resgata – dois por vez – são tratados e encaminhados à feira de adoção do Cordeiro (Projeto Adote um Vira-lata, da UFPE), que só aceita animais castrados e em perfeitas condições de saúde. “Não tenho condições de cuidar de mais de dois de uma vez. Não tenho tempo, nem espaço. E por isso às vezes sou mal interpretada pelas pessoas que me ligam pedindo abrigo a um animal que encontraram doente pela rua e eu não posso atender. Fico muito mal por não poder pegar, mas é uma questão de coerência. Mas estou sempre à disposição para orientar, dar informações e dicas”. Além do trabalho e das despesas, tem a questão do afeto. No começo, diz Alessandra, quando chegava o dia de entregar o cachorro para adoção, o marido Andrey ficava pedindo para ela não levar e ela própria o fazia de coração partido. Com o tempo, porém, foram se acostumando e se conformando com as chegadas e partidas. “Hoje eu só entrego para adoção depois de uma entrevista, de conhecer o local onde eles vão morar e fico acompanhando por pelo menos seis meses a adaptação deles à nova família”, conta. Isso parece amenizar um pouco as saudades.
Mesmo resistindo à tentação de ficar com os bichinhos, Alessandra e Andrey adotaram oito, todos eles duplamente rejeitados, ou seja, que chegaram a sobrar nas feiras de adoção. Zequinha é um dos mais amados pelo casal. Encontrado em 2014 num depósito de lixo em Camaragibe com problemas graves que podem ter decorrido de um AVC ou de cinomose, o cão pesava 3,5 kg, não andava e não tinha coordenação motora para comer ou beber. “Ele estava muito debilitado, mas a gente via que havia uma força interior muito grande, uma vontade enorme de viver”, emociona-se Alessandra. “E nos apaixonamos na hora. Por seis meses ele usou uma sonda para se alimentar e por outros seis meses precisou fazer fisioterapia. Ainda não anda, mas já é outro animal, feliz e amado. O mais gratificante é ver como ele fica tranquilo quando estamos por perto, como se sente seguro e acolhido ao nosso lado”, diz, orgulhosa.
Assim como Zequinha, milhares de cachorros são jogados nas ruas todos os dias. “Principalmente os mais velhinhos”, ressalta a criadora, “quando começam a dar mais despesas e a não servir mais como guarda”. Segundo ela, que já chegou a resgatar três dobermanns e um pastor alemão, as pessoas abandonam mesmo quando os cães são de raça. Os mais velhinhos e os que foram maltratados – e ficam com pavor a seres humanos – são os mais difíceis de conseguir pais adotivos, mas, de acordo com Alessandra, a adaptação deles é surpreendente. “Se forem bem tratados e cuidados com carinho e paciência, eles se tornam animais extremamente dóceis e amigos.
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