Nove entre dez moradores de Aldeia conhecem, nem que seja por fotografia, o representante comercial aposentado Erivan Vianna. O senhor discreto, com pinta de cantor romântico e sorriso fácil, mora há quase 40 anos no bairro, há 16 edita mensalmente o Informativo Aldeia, e todo mês promove uma seresta num restaurante local. Aos 79 anos de idade, já tendo “feito muita coisa nessa vida”, onde chega, em Aldeia, é bastante cumprimentado.
Simpático e engajado, Erivan conversou conosco sobre tudo o que diz respeito a Aldeia, com algumas críticas e otimismo de sobra. No fim de tudo, declarou: se fosse para concorrer a um cargo eletivo, gostaria de ser – abrindo mão do salário, ressalte-se – “o primeiro administrador do Distrito Estadual de Aldeia”.
Sim, pode parecer estranho, mas Erivan tem um sonho antigo: ver Aldeia se tornar independente. “Há muitos anos tenho a convicção de que, enquanto estivermos sob a administração de oito prefeituras diferentes, não vamos conseguir muita coisa. É muito cacique para pouco índio, como se diz. Se Aldeia fosse um distrito e tivesse que se reportar diretamente ao Governo do Estado, tudo seria diferente”, sonha.
Segundo o aposentado, se coubesse a ele administrar o Distrito de Aldeia, a primeira medida que tomaria seria incluir no currículo escolar local uma disciplina de educação ambiental. “Seria como em Curitiba, onde as crianças não admitem um papel jogado no chão. Elas aprendem na escola a respeitar o meio ambiente e passam essa lição para os pais e a sociedade”, diz.
Outra providência que estaria entre as suas prioridades seria a transformação da PE-27 em Estrada Parque, semelhante à que está prevista no projeto do Fórum Socioambiental de Aldeia, já apresentado ao Governo do Estado. “Estamos tão perto do Recife e, se tivéssemos uma estrada bonita, limpa e arborizada, certamente atrairíamos muitos visitantes para cá. Também teríamos um parque onde as pessoas poderiam conviver e levar as crianças para interagir com a natureza”, imagina.
Segundo Erivan, uma das grandes tristezas que teve nos últimos tempos foi ver a construção de um prédio residencial de três andares no Vera Cruz. “A gente deseja um crescimento para Aldeia, mas esse crescimento tem que ser responsável, sustentável. Tinha que haver uma lei proibindo a construção de prédios aqui. Essa seria outra bandeira que eu defenderia como governante”, comenta.
Para ele, apesar de ter crescido muito, Aldeia ainda “é o lugar”. Apaixonado por música e cantor desde criança – foi calouro na Rádio Tabajara, na sua Paraíba natal –, lembra com saudosismo de uma época de boemia, anos atrás, quando se reunia com amigos nos bares de Aldeia e costumava virar a noite na cantoria.
“Hoje, com a violência, as pessoas têm medo de sair à noite. Geralmente os bares não ficam abertos até muito tarde”, diz. Mesmo assim, uma vez por mês ele promove uma seresta no restaurante No Quintal, no km 10 (Galeria Aldeia Business Park), e tem conseguido atrair para lá muitos moradores que compartilham de seu gosto musical. Acompanhado pelo maestro Sávio Belfort no órgão, Erivan canta antigos sucessos de Roberto Carlos, Altemar Dutra e Moacir Franco, entre outros.
“Não consigo me imaginar fora daqui”, diz, acrescentando que, quando tem que ir ao Recife, se impacienta com a agitação e o trânsito. “A única coisa que me faz pensar em sair daqui é a decepção que sinto com certo tipo de gente que vem para cá sem nenhum compromisso com o meio ambiente, nem com o estilo de vida que Aldeia pode proporcionar”, lamenta.
“Já conseguimos transformar isto aqui numa Área de Proteção Ambiental e temos a maior área contínua de Mata Atlântica do Norte e Nordeste do Brasil. Não podemos deixar isso ser destruído, precisamos fazer alguma coisa para conter o desmatamento e a destruição”, opina.
Sempre atuante, Erivan foi presidente do Rotary Aldeia por duas vezes, é sócio do Fórum Socioambiental e sócio fundador da Associação dos Condomínios de Aldeia, apesar de nunca ter morado em condomínio. Está casado há 37 anos com a pedagoga Celly Vianna (sócia e diretora da escola Ecoa), com quem construiu a Creche Mister Fryer, que funcionou por vários anos no Vera Cruz.
O informativo que Erivan edita há 16 anos começou como um boletim do Rotary Aldeia e tinha apenas uma folha impressa dos dois lados. Hoje, chega a sair com um número de páginas que vai de 44 a 56 páginas em formato A4, essencialmente preenchidas por anúncios e artigos de moradores do bairro, impresso em papel especial feito com madeira de reflorestamento. Nos editoriais, escritos de próprio punho, Erivan enaltece as belezas de Aldeia e alerta para os danos ambientais que devem ser combatidos.
Com tanta história e participação na vida comunitária, Erivan Vianna mantém intacto o otimismo que o fez superar as muitas dificuldades que enfrentou ao longo da vida e resume em uma palavra o que sente em relação ao futuro de Aldeia: “esperança”.
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