É preciso ter estado por estas bandas de Aldeia quase quarenta anos atrás, quando quase nada havia por aqui: nem supermercado, nem posto de gasolina, nem mesmo linha telefônica. Foi em 1980 que o casal Walkíria e Aécio Gomes de Matos, com dois filhos pequenos, resolveu viver uma aventura. Recém-chegados da França (depois de passarem pela Argélia, onde passaram uma temporada durante a ditadura militar), resolveram montar um ponto para vender coq au vin (frango ao vinho), típico da culinária francesa.
“Abrimos o ponto no Dia das Mães de 1980. Era para as pessoas pararem e levarem para casa. Achávamos que seria um sucesso, porque no Dias das Mães as pessoas teriam preguiça de ir para a cozinha e parariam para comprar comida. Acontece que não parou absolutamente ninguém. Primeiro, porque passava muito pouca gente na Estrada de Aldeia naquela época. Segundo, porque ninguém sabia que ali havia um lugar que vendia comida”, conta Walkíria, morrendo de rir ao lado de Aécio, enquanto relembra a aventura.
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A estreia fatídica, no entanto, em poucas semanas foi se transformando em sucesso. Os amigos foram chegando, a fama foi se espalhando e os clientes começaram a cobrar um espaço onde pudessem sentar para comer. Assim foi que o casal levantou um galpão e instalou doze mesas com toalhas quadriculadas, no terreno da própria casa, no km 5 da Estrada de Aldeia. E Os Matos virou o point de Aldeia.
“Nosso grande problema foi com mão de obra. Como começou a vir muita gente, inclusive nossos amigos do Recife, tínhamos que contratar ajudantes e tivemos muitos problemas, porque as pessoas que contratávamos não tinham nenhum compromisso, faltavam muito, era uma tragédia”, lembra Walkíria, que é socióloga e hoje está aposentada. “Me lembro de um dia em que faltaram todos os funcionários e nossos filhos, com 7 e 10 anos, junto com mais dois amiguinhos da mesma idade, terminaram nos ajudando a servir”, conta, às gargalhadas.
Os Matos durou dois anos e só funcionava nos fins de semana, pois Walkíria e Aécio tinham seus empregos. Os pratos eram poucos: coq au vin, fondue de carne e fillet au poivre, mas quem se importava? O que valia era a farra de encontrar os amigos, ter um lugar para interagir. “As coisas eram tão diferentes naquela época que nosso centro comercial, para se ter uma ideia, era a padaria de Tabatinga, que tinha um balcão de vidro onde ficavam os pães…aquilo era o máximo!”, recorda Walkíria.
Tudo era tão mais tranquilo naquela época que todos os dias ela saía do trabalho, no centro do Recife, pegava os filhos na Escola Internacional de Aldeia, almoçava em casa, e voltava para o serviço. “Imagine isso hoje!”. O único problema era quando algum carro quebrava em cima da ponte que havia no local hoje conhecido como Padre Cícero. Aí ninguém mais passava e era “um Deus nos acuda”. Os filhos, Ozael e Manuela, têm duas nítidas lembranças daquela época: o entregador de pão, que passava pelas casas de bicicleta, e o sorveteiro, que vendia as bolas de sorvete e fazia a festa da vizinhança quando ouviam os gritos de ‘traga a vasilha!’.
Quem frequentou Os Matos provavelmente deve ter conhecido também o Pato Defumado, um outro restaurante da época. Walkíria e Aécio lembram que o Pato funcionava num sitiozinho, também no km 5 (na rua onde hoje funciona a escola Eccoprime), onde havia “sujeira, galinha, pato, uma bagunça danada, mas todo mundo ia por absoluta falta do que fazer em Aldeia”.
A aventura de Os Matos terminou porque o casal se cansou da trabalheira e da falta de mão de obra minimamente capacitada. Um francês, Jean Claude, alugou o ponto e tempos depois inaugurou – um pouco adiante – o Le Cabanon. Alguém se lembra?
OBS: Tanto Walkíria quanto Aécio lamentam não ter nenhuma foto da época. Aliás, sinal dos tempos, fotografias não eram tão comuns! Se você tem ou conhece alguém que tenha fotos antigas de Aldeia ou histórias do passado, compartilhe conosco!
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