Que tal ouvir histórias de antigos moradores de Aldeia, aqueles que viram a PE-27 com pouquíssimo movimento, o comércio quase inexistente, rios com água para se tomar banho e peixes para se pescar, matas no lugar de condomínios e verde no lugar de muros e cercas elétricas? Todo mundo – dos antigos aos novatos – sabe o quanto Aldeia mudou nas últimas décadas.
Fomos tentar encontrar moradores que aqui viveram nas décadas de 1980 e 1990 para contar um pouco das suas lembranças. E encontrou um grupo de amigas que pulou nos blocos das jacas, criou uma ONG ambiental-cultural-etílica e curtiu o melhor de uma Aldeia sem trânsito e sem “progresso”. Com vocês, as mulheres (uma parte delas) do Reciclaldeia!
“Embora algumas de nós tenham vindo morar em Aldeia nas décadas de 1970 e 1980, foi em 1996 que formalizamos o Reciclaldeia, a partir de um concurso para escolher o nome e a marca, que fizemos na Escola Estadual Tito Pereira”, nos conta Eliana Linhares, pedagoga e analista ambiental do Ibama. A intenção do grupo de amigos, que se reunia nos poucos bares da época, era criar uma organização para cuidar do lixo, que já naquele tempo era um problema sério.
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“A gente gostava do auê de se encontrar, mas a preocupação com o lixo interferindo na saúde da população era muito séria”, complementa Olímpia Barreto, enfermeira sanitarista que então trabalhava no Posto do Araçá, no km 12,5. “Fizemos mobilização das comunidades, campanhas de distribuição de mudas e de lixeirinhas para carro, capacitações, campanhas, feirinhas de orgânicos. Foi um movimento grande e durou até o ano 2000”, recorda.
“Houve uma época que tivemos uma feirinha na beira da pista. Cada barraqueiro expunha seu produto e se comprometia a dar aulas à comunidade”, lembra Vera Portela, que vendia velas e mosaicos e foi uma das que se voluntariaram a ensinar as técnicas artesanais que dominava, gratuitamente, à população.
“Fazia fila logo cedo, todo mundo queria aprender, ainda mais sendo de graça”, diz. “Mas quando ia dando uma certa hora a gente começava a abrir as latinhas e todo o dinheiro que arrecadava com as vendas a gente gastava com cerveja e petiscos. Era uma farra muito boa, fizemos muitas amizades e até casamentos surgiram dali”.
Rejane Liberal, uma das idealizadoras do Reciclaldeia, produz bonsais desde aquela época e afirma que o grupo inspirou muita gente, foi uma espécie de incubadora de empreendedores de Aldeia. “Quando o grupo se dispersou, por motivos diversos, muita gente seguiu carreira solo ou em parceria, produzindo e multiplicando seus dotes”.
Quando provocadas a falar do passado, as amigas são nostálgicas. “As pessoas aqui eram mais unidas, mais solidárias. Mesmo que não se conhecessem com proximidade, todo mundo se conhecia de vista. Havia mais confiança, a gente fazia programas à noite sem medo, dirigia de madrugada”, atesta Eliana Linhares, que hoje em dia praticamente não sai de casa à noite com medo da violência.
“Outro dia fui visitar uma amiga aqui em Aldeia mesmo, e me perdi. Como fazia muitos anos que não ia à sua casa, tomei um choque quando cheguei na rua dela (Estrada de Pau Ferro), só tinha muro, pensei que estava em outro lugar, foi muito estranho”, lembra Eliana.
Olímpia também relata: “Um dia desses eu estava comprando alguma coisa na estrada e vi um amigo que não via há muitos anos do outro lado da pista. Fomos nos falar, mas o tempo que passamos para atravessar foi tão grande que o assunto não pôde ser outro que não os bons tempos que vivemos no passado aqui em Aldeia”.
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