O dia em que conheceu umas crianças estrangeiras, no ano de 2016, foi o mais emocionante da vida de Sophia Maia, então com 10 anos de idade, e também o mais inesquecível. Naquele dia ela era apresentada a pequenos representantes de uma tragédia social que acontecia a milhares de quilômetros do Brasil, mas que a havia tocado de uma maneira definitiva. Eram crianças refugiadas de países como Síria e Congo, que fugiram de guerras para recomeçar a vida no Brasil.
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Sophia Maia, para quem não se lembra, é a pernambucana que desenhou diversas cenas dessa tragédia humana, a começar pela imagem de uma menininha atravessando o Mar Mediterrâneo em uma embarcação lotada, usando como salva-vidas uma boia de brinquedo. Essa cena e outras parecidas foram veiculadas na tevê e na internet e fizeram Sophia chorar junto com os pais, Luciana Maia e Luis Flávio de Lima. E ter a ideia de retratar aquelas pessoas, vender as ilustrações e doar o dinheiro arrecadado para ajudar os refugiados.
Sonho sonhado junto com os pais e com muitas outras pessoas que a ajudaram pelo caminho, ela realizou seu objetivo e chegou a levantar R$ 50 mil que foram destinados a pessoas fugidas de vários países africanos e asiáticos atendidas pelo Instituto de Reintegração do Refugiado – Brasil (Adus), que funciona em São Paulo. Algumas delas ela conheceu pessoalmente, naquele dia que foi o mais emocionante de sua vida.
https://poraqui.com/aldeia/cegonha-de-aldeia-produz-ate-15-bebes-reborn-por-mes/
“Foi uma sensação maravilhosa. Eu estava com muito medo de que eles não gostassem de mim ou não entendessem o que eu estava fazendo, mas foi o contrário: eles me receberam com muita festa e alegria. Eu fiz amizade com outras crianças e ensinei a elas uns passos de frevo e elas me ensinaram dança árabe e dança do Congo. Foi muito bom”, relembra Sophia, agora com 12 anos.
Dona de um traço surpreendentemente maduro para sua idade, Sophia conta que desenha com caneta Posca em papel Canson sobre temas que considera que mereçam ser desenhados. Além de usar muitas cores, influência do gosto materno (a mãe é designer de interiores e a casa onde mora, em Aldeia, é decorada com uma infinidade de peças multicoloridas de arte, artesanato e antiguidades), ela tem nitidamente um estilo que lembra a xilogravura e o cordel.
Dentre os artistas que admira e de quem diz receber influência, Sophia cita Frida Kahlo, Salvador Dalí, Van Gogh e Renoir. Além das imagens dos refugiados, o livro que resultou do projeto Imaginário (que a levou a expor e a dar palestras em diversos centros culturais) retrata cenas do cotidiano dela, como a Venda de Seu Antônio, bodega que funciona perto de seu antigo endereço; ídolos que cultua, como os Beatles; filmes que curtiu, como Amelie Poulain; e seres imaginários, como o peixe-de-pé.
Movida pela preocupação social, que compartilha com os pais, Sophia diz que anda pensando em abraçar alguma causa mais local este ano, talvez os bebês que nasceram com microcefalia em Pernambuco e que, ela sabe, precisam de muita ajuda. Diz que pretende também reeditar o livro Imaginário, que traz 45 ilustrações destacáveis, e já esgotado nas livrarias. Morando em Aldeia há um mês, Sophia diz que está muito feliz, pois sempre sonhou em morar numa casa, com espaço e jardim. Continua estudando no Colégio Apoio, em Casa Amarela, escola que frequenta há oito anos, mas adianta que pretende cursar o ensino médio em Aldeia. Lugar bem apropriado para a menina sensível e talentosa que quando crescer deseja ser, além de artista plástica, bióloga. Conheça mais sobre o Projeto Imaginário no Instagram e no Facebook.
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