No auge de seus 22 anos, o aldeiense boa praça Gabriel Pinho começou sentindo um cansaço, garganta inflamada e febre. Uma febre que só aumentava. Daí a ir parar num hospital e ter sua vida virada de cabeça pra baixo foi questão de dias. Um diagnóstico de Leucemia Mieloide Aguda do tipo M4 o colocava frente a frente com uma difícil realidade: um doloroso tratamento de quimioterapia e a inclusão de seu nome na fila por um transplante junto a outras centenas de brasileiros.
Pouco tempo antes disso, na capital do Rio Grande do Sul, outro jovem, Francisco Correa Piazza, estava fazendo uma doação de sangue quando, já de saída, ouviu a proposta de uma funcionária: você não gostaria de se cadastrar como doador de medula óssea? Não dói nada e você dificilmente será chamado a doar, porque a compatibilidade entre pessoas que não são da mesma família é muito rara”.
Gabriel estava na terceira de cinco sessões de quimioterapia quando ficou sabendo que no banco de dados nacional havia duas pessoas com 100% de compatibilidade com ele. Uma notícia mais que improvável, já que seu próprio irmão havia testado apenas 17% compatível. Naquele momento de enorme felicidade, a única informação que ele pôde ter – de acordo com o sigilo médico – era que os dois doadores eram do sexo masculino e tinham 28 e 55 anos. O mais jovem foi o primeiro a ser contactado.
Apenas dois meses haviam se passado desde que Francisco se cadastrara no Redome. Mas ele não titubeou. Se prontificou de cara a fazer outros exames e calhou que o procedimento foi marcado para o dia de seu aniversário. Ele completou 29 anos no hospital, realizando um ato que seria inesquecível para ele e para uma família em algum lugar do Brasil. Sob anestesia, Francisco foi submetido a uma cirurgia relativamente simples para retirar algumas células da medula óssea de seu quadril.
No dia seguinte, 29 de maio de 2018, Gabriel recebia uma bolsa de sangue com a medula do doador gaúcho e entrava numa nova fase de recuperação. O pós-transplante teve as complicações já esperadas e mais algumas intercorrências um pouco graves, mas o organismo dele finalmente aceitou o órgão estranho e Gabriel ficou curado do câncer.
“Todo o procedimento para o transplante, tanto o meu quanto o do doador foi custeado integralmente pelo SUS. Fiz meu transplante no Hospital Português, fui tratado de forma excepcional por excelentes profissionais e tudo foi pago pelo sistema público. Acho muito importante ressaltar isso, porque as pessoas não sabem o valor que o SUS tem. Precisamos muito valorizar isso!”, conta Gabriel, entusiasmado.
Um ano após o transplante Gabriel já vivia uma vida normal. Dois anos depois, ele quis conhecer seu doador. Segundo a lei que estabelece o sigilo, doador e receptor só podem se conhecer depois de 18 meses do procedimento. Em maio deste ano, em plena pandemia, Gabriel solicitou o acesso ao doador, mas a burocracia o fez ter que esperar até o fim de novembro para matar a curiosidade e falar com o desconhecido que salvou sua vida.
Logo que recebeu o e-mail e telefone de Francisco, Gabriel telefonou para ele e a conversa engatou facilmente. Depois que cada um contou sua história e comemoram juntos o final feliz, se conectaram pelo Facebook. E foi assim que o pernambucano e o gaúcho descobriram um conhecido em comum. Era um guia brasileiro que leva turistas para conhecerem praias em Sydney, na Austrália. Gabriel e Francisco haviam morado naquela cidade mais ou menos na mesma época e tinham feito um passeio com aquele guia. Pelas datas das fotos, a diferença de uma semana separou os dois jovens de terem dividido a mesma vã pelas estradas de Sydney.
A medula óssea é um tecido líquido localizado no interior dos ossos, onde são produzidos glóbulos vermelhos do sangue, glóbulos brancos e plaquetas. Esse líquido é aspirado com o auxílio de agulhas nos ossos da bacia. O procedimento é seguro, realizado em centro cirúrgico e o doador recebe anestesia geral. Dentro de poucas semanas, a medula do doador é totalmente recuperada.
Segundo o Registro de Doadores de Medula Óssea no Brasil (Redome), mesmo com mais de cinco milhões de doadores cadastrados em seus bancos de dados, 850 brasileiros esperam por um transplante de medula (informação divulgada pela Agência Brasil – EBC).
– Procure o hemocentro do seu estado e agende uma consulta de esclarecimento ou palestra sobre doação de medula óssea.
– O voluntário à doação irá assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), e preencher uma ficha com informações pessoais. Será retirada uma pequena quantidade de sangue (10ml) do candidato a doador. É necessário apresentar o documento de identidade.
– O seu sangue será analisado por exame de histocompatibilidade (HLA), um teste de laboratório para identificar suas características genéticas que vão ser cruzadas com os dados de pacientes que necessitam de transplantes para determinar a compatibilidade.
– Os seus dados pessoais e o tipo de HLA serão incluídos no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME).
– Quando houver um paciente com possível compatibilidade, você será consultado para decidir quanto à doação. Por este motivo, é necessário manter os dados sempre atualizados.
– Para seguir com o processo de doação serão necessários outros exames para confirmar a compatibilidade e uma avaliação clínica de saúde.
– Somente após todas estas etapas concluídas o doador poderá ser considerado apto e realizar a doação.
Fonte: Redome
Lembre-se: doar medula é doar vida!
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